Fala Povo! Meu nome é Paulo e você está no blog do Covil! Se por ventura você já assistiu o meu Top 10 no canal ou se ouviu com certa frequência o Nordicast, podcast do Covil, provavelmente sabe que Projeto Gaia é meu jogo favorito e que Terra Mystica também está presente no meu panteão de melhores board games. Antes de prosseguir cabe aqui falar um pouco do Terra Mystica e do seu derivado Projeto Gaia, afim de situar aqueles que desconhessem esses jogos.
Terra Mystica é um jogo altamente aclamado, projetado por Jens Drögemüller e Helge Ostertag, e publicado pela primeira vez em 2012. No Brasil foi publicado em 2016 pela Funbox (hoje Grok Games), se sagrando vencedor no Prêmio Ludopedia pelo júri e pelo público . Com um tema de fantasia, o jogo coloca os jogadores no controle de uma das 14 facções únicas (a expansão Fogo & Gelo acrescenta mais 6 facções), cada uma com habilidades distintas. O objetivo principal é expandir o território da facção, terraformar terrenos para torná-los habitáveis e construir uma rede de assentamentos que gere pontos de vitória. É um jogo para 2 a 5 jogadores, que combina elementos de planejamento estratégico, controle de recursos e interação indireta, com duração média de 2 a 3 horas.
Projeto Gaia é um jogo derivado do Terra Mystica (para alguns uma evolução), trazendo o mesmo núcleo estratégico para um cenário de ficção científica. Jens Drögemüller e Helge Ostertag seguem como designers e o jogo mantém muitos elementos familiares, como o foco em expansão territorial e gestão de recursos, mas adiciona novas camadas de complexidade e inovação.
Nele os jogadores assumem o controle de uma entre 14 facções alienígenas, cada uma com habilidades únicas e nomes esquisitos, lutando pela supremacia galáctica. O objetivo é colonizar planetas, desenvolver tecnologias e criar redes de estruturas que garantam o maior número de pontos de vitória ao final do jogo. Assim como em Terra Mystica, as facções têm restrições específicas sobre quais tipos de planetas (terrenos) podem colonizar, exigindo terraformação (ou “terraformação galáctica”) para expandir seus territórios. Na quantidade de jogadores ele difere do Terra Mystica e comporta 1 até 4 jogadores.
Recentemente tive a oportunidade de jogar várias partidas de Terra Mystica (incluindo partidas solo) e me peguei buscando formas de jogar mais vezes e até gravar mais partidas sobre o jogo. Felizmente ou infelizmente, a geração de conteúdo nos impõe a necessidade de conhecer, jogar e gravar novos jogos. Não vou me alongar neste ponto (quem sabe isso não vira um texto no futuro) e vou tentar me aprofundar no meu desejo de jogar Crack Mystico, apelido que o Terra Mystica recebeu aqui no Brasil quando foi lançado.
O Viciante Crack Mystico
O que torna o Terra Mystica tão viciante? Um análise mais simplista poderia afirmar que é por causa das facções tão diversas e o profundo nível de estratégia envolvido numa partida. Não deixa de ser verdade, mas acho válido ir um pouco além. Cada partida é única graças não só as facções serem assimétricas, mas a combinação delas numa partida e nas disputas por terrenos ou nas trilhas decorrentes disso. Isso somado a escolha do tabuleiro e a aleatoriedade dos bônus de pontuação por rodada, cria quase que infinitas possibilidades, garantindo um desafio e uma experiência renovada a cada partida.
Outro aspecto viciante é a sensação de progressão. Você começa com uma estrutura modesta (habitação ou casinha para os íntimos) e vai, ao longo do jogo, expandindo seu território, desbloqueando habilidades e ganhando mais opções estratégicas. A satisfação de planejar e executar uma estratégia bem sucedida é de fato recompensadora.
Como todo jogo com recursos escassos, você precisa avaliar o custo de oportunidade das ações e a prioridade de acordo com o que seus oponentes provavelmente farão.
A interação indireta também é um destaque. Competir por terrenos ou ações de poder limitados, ao mesmo tempo em que se tenta manter uma posição vantajosa, cria uma tensão constante. Isso faz com que cada decisão tenha consequências relevantes!
Por que Terra Mystica fez mais sucesso que Projeto Gaia no mundo?
Na data em que esse texto foi escrito Projeto Gaia estava em segundo lugar do ranking geral da Ludopedia e o Terra Mystica figurava na quinta colocação, mostrando uma predileção dos brasileiros pela versão espacial do jogo. Ainda que isso aconteça de maneira semelhante no ranking do BGG, o Terra Mystica tem três expansões e uma Big Box, mostrando uma maior atenção e dedicação da editora gringa (Projeto Gaia tem apenas uma expansão). Outro ponto relevante é a quantidade de prêmios relacionados no BGG para cada jogo, Terra Mystica vence por 29 X 15.
Na minha opinião Projeto Gaia é um jogo ligeiramente superior, mas recentemente me coloquei no papel de advogado do diabo e pensei nos provaveis motivos que levaram a editora a dar mais atenção ao Terra Mystica.
- Acessibilidade: Terra Mystica, apesar de complexo, tem regras mais diretas e uma curva de aprendizado menos íngreme se comparado ao Projeto Gaia.
- Tema: O tema de fantasia medieval é mais familiar e atraente para o grande público. Já Projeto Gaia, com sua ambientação espacial mais abstrata e raças completamente desconhecidas, pode parecer menos envolvente para alguns jogadores.
- Interatividade: Projeto Gaia introduziu elementos que reduzem a interação indireta entre os jogadores, como tabuleiros modulares e foco em exploração, o que pode afastar aqueles que apreciam o estudo de aberturas e curtem dar uma bloqueada no amiguinho.
- Legado: Terra Mystica foi bastante inovador quando lançado, conquistando uma base fiel fãs. Projeto Gaia, embora elogiado, é visto mais como uma variação do que como uma inovação completa.
Então qual é o melhor?
Essa pergunta realmente precisa de resposta? Eu acho que não, Terra Mystica vai continuar sendo um clássico atemporal no mundo dos jogos de tabuleiro. Mesmo com a chegada de Era da Inovação, mais um jogo neste universo, haverão jogadores para todos os jogos da franquia.
Na minha opinião, esse trio de jogos são obras primas que representam o ápice do design de jogos modernos, cada um oferecendo experiências ao mesmo tempo únicas e complementares. Dessa forma, a chama do Terra Mystica (ou o vício do Crack Místico) está longe de se apagar. Anos após seu lançamento, esse universo de jogos ainda me cativa e me faz buscar incansavelmente mais por partidas, como se cada jogada fosse uma nova descoberta. Afinal, um vício saudável como esse merece ser celebrado.
Tenho o Projeto Gaia mas nunca joguei o Terra Mystica. Recentemente comprei o Terra Nova justamente pra introduzir novos jogadores no mundo dos Euros pesados e tenho o Gaia como o jogo favorito da turma (e o meu), quero ter as expansões mas ainda não achei. Pretendo ter o “Era da Inovação” assim que a Playease fizer uma grande promoção.
Excelente texto! Terra Mystica é amor demais!
Ótimo texto como sempre
Paulão, maravilhoso texto! Eu nunca joguei e não tenho nenhum dos três. Qual você me recomenda ser o ponto de partida?
Excelente o texto!
Pra mim, o grande diferencial que faz esse jogo incrível é a interação positiva: o jogo te obriga a construir perto do adversário, arriscando ser bloqueado, para conseguir pagar menos e ganhar poder na evolução do inimigo.
Só joguei o Terra Nova e virou vício por aqui também. Aguardando a Grok trazer a Big Box pra evoluir do TM Baby para o TM Adulto, kkkkkkk.
Prefiro o Gaia, mas não nego uma partida de TM. Ambos são jogaço – aço – aço.
No fim, você fala de trio. Quem foi deixado de fora? Era da Inovação ou Terra Nova? Terra Mystica pra mim é fabuloso. E a expansão Mercadores destrava completamente o jogo. Mas eu acho que tem mais coisa por trás da aparente predileção geral pelo Projeto Gaia (ranking) vs prêmios do TM:
5. – pra continuar sua lista – Votantes: Normalmente quem dá nota no BGG e na Ludopedia tem predileção por jogos mais pesados. E, pelo mesmo motivo, mesmo com menos vendas, provavelmente Era da Inovação vai ficar mais alto no ranking do que Terra Nova. Assim é mais fácil entender que Gaia fica muito mais acima do que o TM.
6. Engajamento: como os elementos do jogo são menos dinâmicos (sem setup muito variado ou tabuleiro modular etc), é muito mais fácil criar tabuleiros e raças (fan made) e é quase uma missão impossível até para os criadores do jogo. A comunidade ao redor do TM consegue se engajar com mais facilidade.
7. Vale da Estranheza (uncanny valley): TM é um euro com cara de euro. PG é um euro com cara de ameritash. Não é somente a questão do tema, são os componentes, o material, a arte, as cores…
Dito isso, pelo BGG posso dizer que há mais pessoas registrando partidas de PG do que de TM – quase o dobro de usuários distintos. Mas não dá para ganhar mais prêmios, né?
Gostei muito dos seus apontamentos! Obrigado por contribuir!
Sobre a pergunta, deixei de lado o Terra Nova. Não por desgostar dele, alias gosto muito. Escolhi não falar para não alongar mais o texto que tem como objetivo tentar entender a relação TM e Gaia. Abraço!