Em 1966 os Beatles lançava o álbum Revolver, e o rock nunca mais seria o mesmo.
Os Beatles eram um fenômeno, mas o rock não era visto como “música séria”. Era música dançante, para adolescentes. A música popular “adulta” era quase que totalmente baseada em canções românticas ou standards, tocadas por orquestras e interpretadas por crooners como Frank Sinatra.
Em seus meros 36 minutos, Revolver apresentava uma variedade de temas e variações que uma banda de rock nunca havia ousado antes. As baladas “mela-cueca” e roquinhos “esquenta-sovaco” estavam ali, mas conviviam com canções que falavam da solidão de idosos (Eleanor Rigby), da injustiça dos impostos (Taxman), solos de cítara indiana (Love You Too), além da inacreditável “Tomorrow Never Knows”, com partes da letra tirada de um livro budista.
Revolver é uma espécie de “carteira de motorista” do Rock, a prova de sua maioridade. O seu estrondoso sucesso validou o rock como “arte” e na sua esteira vieram Rolling Stones, The Who, Deep Purple, Led Zeppelin, Elton John e tudo o que veio depois.
Dez anos depois, o rock havia se tornado um estilo de música muito diferente. O Rock Progressivo e o Hard Rock haviam se tornado um os principais gêneros da música e bandas como Yes, Pink Floyd e Gênesis dominavam. Seus artistas normalmente tinham formação clássica como músicos e suas composições eram bastante complexas. Longas suítes de 20, 30 minutos, com muitas variações de ritmos e harmonias para lá de complexas.
É um deleite para se ouvir (eu adoro) mas, se você é jovem que estava aprendendo a tocar guitarra naquela época, tocar as obras do progressivo dos anos 70 seria algo um tanto quanto distante para você.
Junte a isso o fato que era uma época muito difícil para os jovens, com a crise do petróleo, depressão e desemprego em massa no Reino Unido. Os jovens dessa época precisavam de uma música que permitisse liberar a angústia e a rebeldia que sentiam, uma musica que eles pudessem tocar sem ter que frequentar 10 anos de conservatório
Foi assim que surgiu o Punk. As sementes já estavam por ali, mas foi preciso que Malcolm McLaren, um esperto empresário, juntasse as peças e montasse a banda que simbolizou o movimento: os Sex Pistols!
Os Sex Pistols foi um cometa que passou por Londres e não deixou pedra sobre pedra. Com um único disco de estúdio lançado, “Never Mind the Bollocks, here are the Sex Pistols”, o rock mudou novamente. Uma série de bandas e movimentos foram criadas em sequencia, criando os inúmeros estilos que se agrupam sobre a nomenclatura “guarda-chuva” chamada Pós Punk. The Smiths, Radio Head, Iron Maiden, quase tudo que veio depois além de dever a Revolver, deve também aos Sex Pistols.
O que tem isso a ver com os jogos de tabuleiro afinal? Assim como a música, os jogos de tabuleiro são um produto cultural de massa e por isso estão sujeitos as mesmas mudanças de tendências oriundas dos designers e dos interesses do público.
É sempre a mesma história: ondas de energia criativa mudam o panorama vigente, trazem novos públicos e, a medida que as novas ideias se consolidam, se engessam e abrem espaço para novas ondas de energia criativa.
É nesse ponto que quero introduzir o assunto de hoje: o renascimento do “Carteado” como uma tendência importante no board game moderno. Assim como o Punk trouxe uma certa simplicidade e crueza ao Rock, os novos jogos de carteado moderno trazem, com equipamento minimalista regras simples e jogos que podem ser ensinados rapidamente, coisa que vinha se tornando cada vez mais rara nas mesas dos hobistas mais dedicados.
Neste texto vamos discutir os carteados sobre uma certa perspectiva histórica (jogos de cartas são tudo, menos uma novidade no mundo dos jogos), como está a cena atual, porque esse tipo de jogo vem fazendo sucesso e as reações que isso tem causado.
O mais perfeito elemento lúdico de todos os tempos
Nada no mundo dos jogos é mais flexível do que um baralho tradicional de 52 cartas. Existe uma infinidade de jogos diferentes que podem ser jogados com esse apetrecho (sendo as vezes necessário mais de um baralho).
É impossível saber quantos jogos de cartas existem. O site “Card Game Rules” sequer apresenta uma contagem (ele possui uma lista alfabética e por mecânica), porque ela muda todo dia.
Entre os mecanismos, eles apresentam um primeiro nível de organização que eles dividem em 5 tipos:
1) Outplay (em português, seria algo como “Jogue cartas na mesa”): é a categoria onde a principal ação do jogador é… jogar cartas na mesa! É onde temos os jogos de vaza (Truco e Bridge), de escalada (Tichu) e de pescaria (Escopa).
2) Troca de Cartas: é o tipo de jogo onde sua ação consiste em comprar e descartar cartas. é onde temos jogos muito famosos no Brasil como Buraco e Canastra.
3) Comparação de Mão: onde estão jogos como o Poker e o Blackjack, onde se montam mãos que serão comparadas no final.
4) Jogos de Layout: onde estão a maioria das paciências, jogos onde as cartas são organizadas em padrões distintos e diversas regiões da mesa, com funções diferentes.
5) Outros: onde estão jogos que não puderam ser classificados nas outras 4 categorias mas que ainda não formam uma família de jogos própria.
Porque “Carteado”?
Carteado é um termo que, pelo menos a luz de uma breve pesquisa que fiz na Internet, é uma palavra que não tem sinônimos perfeitos em outra língua (bem, talvez em alemão, que tem palavra para tudo).
Basicamente ela significa “jogo de cartas”. Se formos traduzir para o inglês e, principalmente, se formos levar em consideração o universo dos jogos de mesa modernos, autorais, “jogo de cartas” se torna de certa forma impreciso. Magic é um jogo de cartas, Arkham Horror (entre outros jogos colecionáveis) é um jogo de cartas, mas quando falamos em carteado não pensamos em nenhum desses jogos.
Carteados são basicamente jogos de cartas tradicionais ou jogos de cartas modernos que usam as mecânicas mais consagradas dos jogos de cartas tradicionais. São jogos de regras relativamente simples e duração rápida ou moderada. Numa definição mais restrita, seriam jogos que você pode jogar na praia, num churrasco ou no boteco.
Porque tanto sucesso?
Jogos de cartas sempre foram muito populares no mundo inteiro. Faz mais sentido explicar porque eles ficaram tanto sendo uma espécie de “patinho feio” dos jogos de mesa modernos, relegados ao papel de meros coadjuvantes ou, usando o termo técnico, de “fillers”.
Aqui eu volto ao paralelo que fiz com a música. Assim como Revolver mudou a percepção das pessoas sobre o que era o rock, os euros modernos trouxeram respeitabilidade aos jogos
Temas de gestão, necessidade de planejamento e execução de metas de médio e longo prazo, tudo isso permitiu aos hobistas se justificarem, se não para os outros, mas para si mesmos, que a atividade de jogar não seria uma mera brincadeira, mas um entretenimento adulto. Para muita gente do hobby os jogos de carta parecem um mero passatempo e não a atividade que de alguma forma eles justificam como um entretenimento “sério”.
Um dos fatores que provavelmente mais incomoda é a questão da sorte. Jogos de cartas raramente são jogos de informação perfeita e o acaso normalmente é algo que tem que ser levado em conta. A meu ver, isso é parte do seu encanto mas, para boa parte dos jogadores, isso é um grande senão.
O mais engraçado é que, para o público geral, se existe um tipo de jogo que é aceito como jogo de adulto, são os jogos de cartas. Jogo de Tabuleiro é Banco Imobiliário e Jogo da Vida, são coisa de criança. Jogo de Adulto é Poker, Pif-Paf, Buraco.
Porém, para muita gente, essa percepção começou a mudar. Porque isso aconteceu?
Eu não sei, mas tenho alguns palpites:
a) O tempo de explicação de regras e setup: os jogos mais pesados exigem uma dedicação razoável de alguém que leia as regras e consiga explica-las aos demais. Além disso, em alguns jogos o trabalho de arrumar o jogo é um ritual bizantino, com a organização de baralhos e tiles de tipos e tamanho diversos, além da organização do tabuleiro individual. Não são poucos casos onde se leva uma hora para arrumar e explicar um jogo. Muitas vezes as pessoas querem sentar e jogar logo e todo esse trabalho vira um empecilho a jogatina.
b) As estantes cheias: boa parte dos hobistas não tem mais onde colocar jogos novos. As caixas são grandes e pesadas. Os jogos de cartas vem em caixinhas pequenas, e podem ser carregados numa bolsa de mulher ou guardados às dúzias numa gaveta.
c) O Preço: embora sempre exista o pessoal que vai importar a última moda em vaza japonesa, pagando os olhos da cara por isso, os jogos de carta tendem a ser muito mais baratos na média.
d) A profundidade: Ter regras simples não é sinônimo de falta de profundidade. Jogos de carta bem feitos normalmente tem muita malícia e necessidade de leitura de mesa para serem dominados.
e) Inovação: Principalmente devido aos designers japoneses, os jogos de carta se tornaram uma das maiores fronteiras de inovação nos jogos modernos. Jogos muito inovadores como Scout, Maskman, Corta! são exemplos de como há espaço para novas ideias nesse universo.
O Lobby do Carteado
Para que os carteados entrassem no mainstream do hobby foram necessários duas coisas: produtos disponíveis no mercado nacional e um catalisador, alguém que os apresentasse e defendesse nas mídias sociais.
O primeiro jogo que “furou a bolha” foi o fantástico “The Crew”, vencedor do Kennerspiel des Jahres de 2020. O prêmio permitiu com que a Devir trouxesse o jogo para o Brasil com boa tiragem.
O sucesso de The Crew animou as demais Editoras. A Geeks and Orcs, do nosso Renato Simões, tomou a dianteira trazendo, de forma simultânea, dois jogos de vaza muito interessantes para o Brasil em 2021: o clássico Homem Batata, que é um jogo alemão de 2013 e o super moderno “Corta!”, a adaptação de um jogo japonês (o nome original era “American Bookshop”), de 2019. Esses jogos fizeram bastante sucesso e abriram o olho das demais editoras.
A Grok então lançou o Dobro, um jogo nacional de climbing (a mecânica onde você precisa sempre jogar uma carta maior que a que está na mesa e seu objetivo é se livrar das cartas), que fez muito sucesso e finalmente, o Papayoo, que é uma espécie de Copas Fora com esteroides.
Todos esses produtos porém não teriam tido tanto sucesso sem o trabalho do Fel Barros, conhecido designer e desenvolvedor de jogos, atualmente na CMON e presença constante no Covil e em diversos canais sobre board games.
Além de ser um dos designers do “Dobro”, Fel Barros usou muito do seu prestígio no meio para divulgar não só os seus jogos e seu evento de exclusivo de jogos de cartas, o “Cartapalooza”, mas o carteado de maneira geral.
Ter um cara respeitado falando bem, de maneira ativa, sobre um tipo de jogo, com certeza faz muita diferença e ele realmente tem esse mérito.
Muita gente seguiu o caminho que foi aberto e hoje temos diversos proponentes dos carteados. Um dos que gosto mais é o “Carteado Around the World”, canal do Instagram conduzido pelo Magana, que é outro grande divulgador desses jogos em eventos e nas redes sociais.
![CARTEADO AROUND THE WORLD - Tudo sobre jogos de Vaza, Climbing, Shedding, Rummy e Fishing](https://uploads.comparajogos.com.br/original/2X/c/c1a65d212da436a26427af176e5b52b0e3028c16.jpeg)
Aqui no Covil mesmo, o Paulo sempre se mostrou um entusiasta desse tipo de jogo e o lançamento do Divicity na Covil Con está conectado com tudo isso. Por fim, este que vos fala, que se formou como jogador jogando Bridge (o maior de todos entre os jogos de cartas), se não fui mais enfático antes (apesar de ter escrito alguns artigos sobre jogos de carta no início dessa coluna), espero estar dando minha contribuição agora, com esse texto.
A reação
Como era de se esperar, houve uma certa reação do lado dos jogadores mais tradicionais. O Moisés Pacheco (autor de jogos como Grasse e Hokusai) fez uma enquete de zoeira numa rede social perguntando se essa tendência de carteado era pra ficar ou se era apenas invenção do Fel Barros, sem saber que com isso estaria abrindo as comportas do esgoto da internet, de onde saíram comentários lamentáveis de todos os lados.
Aqui é bom deixar um ponto claro: o Moisés e o Fel se conhecem, são amigos e gostam de todos os estilos de jogos. Eu já joguei Tichu com os dois. Acreditem, a intenção era só zoar o colega.
A questão das discussões da internet é que as vezes um post até inocente serve de fagulha para que se formem facções apaixonadas contra e a favor de qualquer coisa. Não era para um assunto como esse ser tão controverso. Quem quer jogar carteado, joga. Quem não quer, não joga. Simples.
Sinceramente, eu não consigo entender esse fenômeno. O que eu desconfio é que, como você precisa de parceiros para montar mesas e como existem muito mais jogos do que seria possível jogar com o tempo que temos, o que está por trás dessas discussões é uma espécie de “guerra fria” para determinar a agenda do que vai pra mesas nas próximas jogatinas.
Gostaria de saber a opinião de vocês. Porque as pessoas se preocupam tanto com o que os outros acham dos jogos que elas gostam ou não gostam? Porque há tanto patrulhamento com o gosto alheio?
O Futuro
Qualquer tendência de sucesso acaba sendo absorvida e gerando novas ilhas de criatividade. O Punk gerou o Pós-Punk, a nova onda do Metal na Inglaterra, o speed metal e por aí vai.
Essa tendência do carteado já começa a trazer algumas sínteses. Alguns vem incorporando mecânicas típicas de jogos de cartas em jogos de tabuleiro, como é o caso do Brian Boru, onde a seleção de ação é feita através de vazas. Do outro lado, temos o sensacional Nokosu Dice, um jogo de vazas que mistura cartas e dados. As cartas ficam fechadas na mão, mas os dados ficam abertos na mesa, gerando um jogo de vaza com informação parcial muito bem feito.
Pessoalmente, o que espero que aconteça no médio prazo é que os designers percebam que as pessoas querem jogos mais simples. A profundidade de um jogo não precisa necessariamente vir do excesso de elementos, pode vir das possibilidades de interação entre os jogadores.
Há (ou pelo menos, deveria haver) espaço para todo tipo de jogo. Porém, como a existência de um modo solo virou quase uma exigência nos euros mais pesados, a solução que os designers encontraram foi diminuir a interação e aumentar a quantidade de elementos do jogo para que o aspecto “puzzle” do jogo seja suficientemente atraente.
Não me levem a mal, esses jogos mais “barrocos” são legais também, apresentam um bom desafio. Eu não quero que eles acabem, eu só acho que eles dominaram a cena dos euro e eu acho isso ruim, pois a barreira de entrada para jogá-los esta cada vez maior.
Conclusão
Eu sou um grande fã de rock progressivo. Yes e Genesis são duas das minhas bandas favoritas. Fico horas ouvindo Supper’s Ready e Close to Edge e, cada vez que as ouço, percebo um novo detalhe.
Tem horas porém que o que queremos é desopilar o fígado ouvindo nada mais que um bom disco do Ramones, no auge de suas canções de 2 minutos e 3 acordes!
Há tempo para tudo, meus amigos. Tem dia que queremos desfrutar de um jogo pesado e outros que queremos apenas rir com os amigos jogando carteado numa mesa de bar.
O mundo já está muito polarizado. Não precisamos tomar partido em tudo. Busque o que há de melhor em todas as tendências que aparecem e guarde para você o que é bom! A solução está na síntese!
Referências:
1) O Guia do Carteado – Post na Ludopédia em 3 partes (https://ludopedia.com.br/topico/74101/o-guia-do-carteado-parte-1-3) com participação de alguns dos personagens citados nesse artigo
2) Foi difícil escolher apenas uma referência falando sobre Revolver e sua influência na música pop, porque são inúmeras. Vou deixar duas aqui: um livro (que não li, mas entrou na fila), “Revolver: How the Beatles Reimagined Rock n’ Roll”, de Robert Rodriguez, pode ser encontrado facilmente na Amazon. Outra é o artigo da Wikipedia em inglês, que está muito completo.
3) No Future – Podcast “I miss… radio”, temporada 6 episódio 3, disponível no Apple Music. Esse podcast é maravilhoso e conta a história do rock de maneira geral. Esse episódio sobre o Punk é muito bom e bem pesquisado. Recomendo muito.
4) Card Games Rules – um dos sites mais antigos da Internet, compilando as regras de praticamente todos os jogos de carta existentes no mundo (www.pagat.com).
5) Se você gosta de jogos de carteado e lê bem em inglês, sugiro que considere entrar para o Trick-Taking Guild, uma comunidade do BGG sobre jogos de carta. É muito bom para saber as novidades desse nicho dentro do nicho.
6) Por fim, queria fazer uma homenagem ao jornalista Artur Dapieve que foi a minha principal referência quando comecei a escrever esses artigos, pois ele sempre escrevia sobre música no Segundo Caderno de O Globo e misturava isso com reflexões as vezes filosóficas, as vezes do quotidiano. Eu o conheci, fui seu aluno em alguns cursos da Casa do Saber aqui no Rio e para mim, ao fazer um texto onde eu falei do meu assunto (jogos de tabuleiro) fazendo um paralelo com a música, foi como se um ciclo tivesse se fechado! Não sei se este texto chegará a você mas, de qualquer forma, obrigado Mestre!
Um dia eu estava falando do jogo Descent em um grupo. Falei q estava gostando da mecânica e do aplicativo q facilitava o uso. Logo alguém falou: “se vc gosta de Descent é melhor jogar vídeo game e esquecer os board games. Perguntei pra ele: e se eu quiser gostar dos dois, além de outras opções? Até hj não me respondeu. Mas vai de encontro com o falado no texto. Acho q todos aqui só deveriam está felizes uns pelos outros e principalmente pelo hobby, já q todos estamos fomentando essa indústria.
Fred,
Eu confesso que, para jogos narrativos, eu realmente prefiro o video game. Ao mesmo tempo, reconheço que Mansion of Madness com o aplicativo e com o grupo certo fica muito legal.
As pessoas precisam separar o gosto individual do que é qualidade objetiva. Um jogo pode ser bem feito e não ser para você e ao mesmo tempo você gostar de um jogo que é cheio de defeitos, mas que, para você a experiência faz sentido. Não tem problema nenhum nisso.
Obrigado pelo Feedback!
Eduardo
Mais um primor de texto. Curti muito essa introdução para fazer um paralelo com a música (talvez meu gosto musical parecido com o teu tenha influenciado…haha)
Essa questão do “lobby dos carteados” é bem divertida, acho curioso como isso se tornou uma polêmica. Para mim você explicou bem o que levou a termos tantos carteados no mercado nacional e internacional: um carteado fez sucesso, ganhou prêmio e, aliado à portabilidade e custo de um baralho, abriu os olhos das editoras e consumidores. O resto é só a natureza humana querendo polemizar e julgar tudo…hahaha.
Na minha coleção acredito que o primeiro carteado que tive foi o Dobro, e logo em seguida o Homem Batata, comprados justamente por alguns dos motivos que você descreveu: preço, facilidade em explicar, tamanho e com certa profundidade. Eles me permitiram tirar o Uno de algumas mesas de amigos, e abriram caminho para outros carteados e jogos maiores. Depois deles já peguei alguns outros, que me fizeram levar pra mesa pessoas que, de outras vezes, se recusavam a jogar “esses jogos de tabuleiro complexos”. Esse talvez seja o maior mérito dos carteados, seu “minimalismo de componentes e de regras” e familiaridade com jogos tradicionais como truco e buraco, que não assusta que não é hobbysta, mesmo que seja um jogo com profundidade.
Eu estou longe de ser um apaixonado pelo gênero, mas tenho meus carteados curinga e meus preferidos, e acho ótimo que essa onda tenha acontecido, especialmente pela possibilidade de expandir o público que joga. Que continue assim!
Tiago,
Obrigado pelo feedback. Acho que você pegou os principais pontos do artigo.
Uma coisa que me assusta é como, por um tempo, andou-se apenas na busca de uma profundidade baseada numa maior quantidade de elementos e não da complexidade criada pelo espaço de decisão dos jogadores. Jogos como o Samurai, do Knizia, praticamente não aparecem mais no mercado.
Eu acho (na verdade, torço para) que essa tendência do carteado pode ajudar os designers a voltarem tentar produzir jogos mais elegantes.
Um abraço,
Eduardo
Vieira, ótimo artigo! Acho que um pouco do crescimento do carteado vem com a popularização dos jogos de tabuleiro: saímos da fase dos manuais de RPG com centenas de páginas e jogos complexos com muitas horas de duração. Acredito que também veremos um crescimento de jogos cooperativos, que demandam interação entre os jogadores.
Xará, obrigado pelo feedback!
Acho que os cooperativos já tiveram momentos de mais destaque, mas sempre pode voltar, os movimentos são pendulares!
Sds,
Eduardo