
Se você já é um hobbista dos jogos de tabuleiro há algum tempo, você conhece nomes como Reiner Knizia, Eric Lang ou Stefan Feld, entre vários outros conhecidos e recorrentes de autores com uma base de fãs enorme. Mas existem vários game designers com uma biblioteca de jogos incríveis mas cujo nome não gera tanta expectativa (o famoso “hype”). Um desses grandes autores sem o status de “estrela do rock dos jogos de tabuleiro” é o protagonista desse artigo, além de um dos meus autores favoritos.

Phil Walker-Harding (nascido em 1981 em Wollongong, Austrália) é um designer de jogos australiano, mais conhecido talvez pelo seu jogo de maior sucesso e alcance: “Sushi Go!”, que foi publicado em mais de vinte línguas ao redor do mundo e vendeu mais de um milhão de cópias (no Brasil, foi publicado pela Devir).
Ninguém melhor para descrever Walker-Harding que o próprio Walker-Harding, que descreve seu perfil da seguinte forma (em tradução livre) em sua página de internet: “Eu crio jogos que são fáceis de aprender e que sejam socialmente envolventes de jogar. Eu espero que meus jogos possam juntar na mesa pessoas de todas as idades e perfis para uma experiência significativa”.
Ele conta em entrevista para o site Board Game Review que suas primeiras memórias com jogos são de partidas de Uno e Mouse Trap e que mais tarde viciou em Scotland Yard e em The a-MAZE-ing Labyrinth. Quando mais velho ele conheceu Catan, Carcassone e Lost Cities e foi quando a vontade de fazer jogos se intensificou. Sua primeira tentativa de criar um jogo foi uma versão para 4 jogadores de Lost Cities, que ele diz não ter funcionado (Lost Cities acabou ganhando uma versão para 4 jogadores feita pelo próprio Knizia em 2008). Phil começou a publicar jogos em 2007, seu primeiro jogo publicado é o Archaeology, que no Brasil chegou somente em sua versão “re-re-implementada”: Archaeology: The New Expedition (publicado pela Conclave). Hoje ele é freelancer e já trabalhou com algumas das maiores editoras do mercado, como CMON, Z-MAN, KOSMOS, Gamewright e Lookout entre tantas outras.
Já tive a oportunidade de jogar 13 dos mais de 20 jogos publicados do autor até hoje, e listo aqui os 5 jogos que, na minha limitada experiência, são os melhores de Phil e minhas principais recomendações, mas infelizmente só dois deles foram publicados no Brasil.
5 – Silver & Gold (2019, inédito no Brasil)

Silver & Gold é um jogo de “Virar carta e escrever” (“Flip & Write”), um dos meus gêneros de jogos favoritos, então é claro que sou enviesado. No jogo você precisa completar o maior número de cartas de Ilhas marcando cada uma delas com as formas que são abertas toda rodada. Ao marcar cartas você pode ganhar moedas, pontos por árvores ou mesmo uma marcação livre de um quadrado em qualquer Carta de Ilha. Dessa forma simples, o jogo oferece uma viciante experiência de otimização ao longo das 4 rodadas. No final, cada ilha vale pontos de acordo com sua dificuldade e algumas oferecem um bônus por outras ilhas de determinada cor concluídas.
4 – Llamaland (2021, inédito no Brasil)

Um jogo de Tetris (mais uma vez, confesso que estou enviesado). Llamaland é uma corrida por recursos suficientes para alimentar as melhores Cartas de Lhamas e assim ganhar pontos pelas lhamas mais valiosas e pelas cartas de objetivo. Para conseguir recursos o jogador precisa cobrir o ícone desses recursos no seu tabuleiro, as peças adquiridas também tem recursos que uma vez cobertos também vão gerar recursos, criando assim várias camadas quebra-cabeça de otimização da posição das peças.
Sem comprometer a simplicidade do jogo, também existe uma “construção de motor” através das cartas de Aldeões, que oferecem habilidades recorrentes que podem proporcionar reações em cadeia que aceleram a produção de recursos. Além da construção do terreno, o jogador também precisa posicionar as lhamas tentando cumprir os critérios dos objetivos de fim do jogo, mas uma lhama mal posicionada pode custar caro na hora de colocar mais peças.
3 – Cacao (2015, Devir Brasil)

O “Carcassonne” do autor. Cacao é um jogo de colocação de peças, onde a selva deve ser construída pelos jogadores alternando entre peças de trabalhadores e peças da selva. Os jogadores devem ativar as peças de selva com as peças de trabalhadores para colher cacau, trocar cacau por pontos de vitória, avançar no rio e controlar os templos. Cacao é um jogo bastante interativo que está mudando a todo momento, os jogadores precisam ter bastante atenção em como a selva se forma e também devem fazer uma boa gerência de quando e onde jogar as melhores peças de trabalhadores. Cacao é um jogo de mecanismos bem simples mas que oferecem desafio para aqueles que querem jogá-lo bem.
2 – Sushi-Go! (2013, Devir Brasil)

O mecanismo de draft “pegue uma carta e passe o resto” já é algo divertido e envolvente, não é por nada que 7 Wonders é um dos jogos mais bem sucedidos do mercado. Sushi-Go! é um envolvente jogo de draft que pode ser resumido como uma versão simplificada de 7 Wonders. Na sua vez você escolhe uma carta e no fim do turno passa sua mão, cada carta pontua de forma diferente, e as melhores pontuam se estiverem em pares ou em trio, mas o risco é mais alto. Esse risco é o que torna Sushi Go tão divertido. A cada nova revelação das cartas escolhidas pelos outros jogadores, o jogador vai ganhando mais informações sobre os caminhos que ele pode arriscar e recebe com expectativa cada nova mão recebida dos vizinhos. Extremamente simples, é um “jogo confortável” que oferece uma experiência leve e gratificante que cabe fácil na sua jogatina quase independente do humor e disposição das pessoas. Pode ser substituído por Sushi Go! Party, uma versão melhor produzida com
mais formas de pontuar.
1 – Imhotep (2016, inédito no Brasil)

Uma obra-prima, não só dentro do repertório do autor, mas em relação ao mercado como um todo. Em Imhotep os jogadores precisam colaborar na construção de algumas estruturas do Egito antigo, enviando pedras para os locais de construção. Na sua vez, você pode carregar uma de suas pedras em um barco, ou escolher qualquer barco com sua capacidade mínima atendida para ser enviado para um local de construção. Cada local só pode ser visitado uma vez por rodada e vai pontuar de forma diferente baseado em como as pedras são distribuídas. Tudo é importante em Imhotep, o barco que você escolhe, a posição da pedra nesse barco e no fim o destino do mesmo, nenhum mecanismo pode ser ignorado. Cada jogador está envolvido com o turno de todos os outros jogadores. Vale a pena carregar uma nova pedra? Onde você deve colocar essa pedra? Para onde você quer que esse barco seja enviado? É melhor abrir mão da sua ação para desviar um barco carregado de pedras de outros jogadores? Por fim, Imhotep também é um jogo lindo com seu visual abstrato proporcionado pelos cubos de madeira em tamanho grande que
representam os tijolos do jogador em cada zona de construção.
E o futuro?
Mais recentemente, Walker-Harding trabalhou na re-implementação do jogo Fjords, cujo o designer original, Franz-Benno Delonge, faleceu em 2007 (que descanse em paz). Além disso, também foi co-designer do excelente My Shelfie, jogo deste ano que fará muito sucesso entre os fãs de abstratos. Também foi anunciado o jogo Monolyth, um jogo de tetris em três dimensões que já é um dos meus jogos mais aguardados (claro, é tetris).

No Brasil, a Paper Games já anunciou o Museum Suspects, um jogo de dedução que mal posso esperar pra ter na mesa. E eu torço para que todos os outros jogos citados aqui ganhem a atenção das editoras nacionais.
E você, já tinha prestado atenção nos jogos do autor? Quais seus favoritos? Você me odeia por não incluir Barenpark aqui? Comentem ai, estou curioso em saber os jogos que vocês mais gostam de Phil Walker-Harding.
Abraços!

Júlio Novais, no hobby desde de 2016, mas ainda gosta de praticamente tudo que joga e toparia fácil uma partida de Banco Imobiliário. Adora jogar modos solo e dessa forma explorar um pouco mais cada jogo. Tem um fraco por rolls&write's e jogos com tema de terror e arqueologia.
Sonha em pilotar uma X-Wing, mas é analista de sistemas. Filho do Nelson e da Irismar, já começou a vida rolando 20 e é muito grato por essa sorte.