
Tetris, criado por Alexey Pajitnov em 1984, é com certeza a maior referência de jogo usando poliminós que existe. Tetris, mais especificamente, usa tetraminós, uma forma geométrica plana formada por quatro quadrados colocados ortogonalmente adjacentes e que são pertencentes ao grupo dos poliminós. Além dos tetraminós, o grupo dos poliminós também contém formas com outros tamanhos, entre eles temos os dominós, os triminós e o pentaminós, com dois, três e cinco quadrados respectivamente. Esses são os tamanhos mais utilizados na criação de quebra-cabeças ou jogos usando poliminós. O termo “poliminó” (“polyomino”, em inglês) só foi criado em 1953, pelo engenheiro e professor Solomon W. Golomb.
No entanto, quebra-cabeças usando poliminós já existem desde o começo do século 20. O primeiro registro que existe de um quebra-cabeça usando todas as doze formas de pentaminós, mais um tetramino, vem do livro The Catenbury Puzzle, publicado em 1907. O livro trás o quebra-cabeça “The Broken Chessboard” (“O tabuleiro de Xadrez quebrado”, em tradução livre) onde você precisa usar todas os treze poliminós para reconstruir um tabuleiro de xadrez que foi destruído pelo príncipe Henry após perder várias partidas para Louis, o Delfim de França (algo que supostamente aconteceu mesmo).

Por volta de 1937, a revista Fairy Chess Review publicava quebra-cabeças usando poliminós e o tabuleiro de xadrez. Um dos mais populares quebra-cabeças da FCR usava pentaminós e a ideia era cobrir um tabuleiro de xadrez deixando somente 4 quadrados descobertos. Em 1958 uma análise de computador registrou 68 formas de resolver o quebra-cabeça deixando quatro quadrados vazios no centro.

O primeiro jogo de tabuleiro com poliminós foi o Pan-Kai, de Alex Randolph, em 1960. É um jogo para duas pessoas onde os jogadores competem para preencher primeiro um tabuleiro de 10×10. Até hoje, o mecanismo “cobertura de grade” acompanha a maioria dos jogos que usam poliminós. Inúmeros jogos de mesa modernos adotam poliminós de diversas formas, de jogos familiares a jogos com peso estratégico maior. Patchwork e New York Zoo são exemplos de jogos que usam poliminós para preencher grades, com outros mecanismos em volta. Outra forma bastante comum de usar essas peças é em jogos de construção de padrão, como Recto Verso e Tuki, que usam poliminós em três dimensões. Já no Era Medieval e em Tapestry, os poliminós são miniaturas de estruturas bem detalhadas que o jogador precisa usar para construir uma civilização de forma otimizada. Do outro lado, Second Chance e Brikks são jogos que não tem peças, elas são desenhadas pelo jogador. Dentro de jogos maiores, o quebra-cabeça sobre otimização de espaço e antecipação dos poliminós pode assumir porções menores, mas importantes, da estratégia.
Contudo, é o jogo de Pajitnov que, pra mim, define o “gênero”, já que desde de 1984 Tetris já vendeu mais de 100 milhões de cópias em todo o mundo e hoje só fica atrás de dois fenômenos modernos dos jogos digitais: Minecraft e GTA. É por isso que nesse artigo eu chamo os meus queridos jogos com poliminós de jogos de “tetris”.
Eu lhes apresento os meus jogos de tetris favoritos, enquanto falo brevemente de cada um deles.
1) Um Banquete a Odin
Pra mim o melhor jogo de Uwe Rosenberg, onde ele mistura seu consolidado jogo de “fazendinha” com alocação de trabalhadores com seus populares jogos de quebra-cabeça usando poliminós. Banquete a Odin usar formas simples de peças, o desafio está na regra de que você não pode ter algumas peças adjacentes a peças da mesma cor, para resolver o problema o jogador precisa melhorar as suas peças, fazendo com que elas mudem de tamanho ou cor. Aqui as peças representam comida, plantio, pele, animais e até espólios proveniente de invasões, tudo para cobrir o tabuleiro que é a vila viking do jogador. Pessoalmente, eu acho a forma como se alimenta os trabalhadores nesse jogo um ponto genial a ser destacado. O meu jogo solo favorito.

2) The Grand Carnival
Com uma arte fenomenal e regras elegantes, Grand Carnival precisou de uma única partida para se tornar uma dos meus favoritos da vida. No jogo, você tem dois níveis de colocação de peças, já que primeiro você precisa colocar os lotes para depois colocar as atrações do parque. A posição dos lotes precisa ser pensada de forma que você crie o melhor caminhos para os seus visitantes passem pelas atrações do parque. Uma das melhores coisas no jogo é que o jogador movimenta os visitantes dentro do parque que ele mesmo está construindo, de modo a fazer com que cada visitante coloque tickets nas atrações, tornando elas válidas para a pontuação. Pra mim, é um dos mais temáticos dessa lista.

3) A Ilha dos Gatos
A Ilha dos Gatos também se tornou um dos meus favoritos logo de cara. A ideia é simples, cada rodada você precisa salvar gatos e colocá-los no seu barco, uma vez no barco é interessante que os gatos de mesma cor estejam adjacentes, basicamente isso. O problema é que resgatar gatos não é tão simples, exige recursos, e mesmo que você tenha muitos, ainda é limitado pelo número de “Cestas” que você tem. Toda rodada de Ilha dos Gatos os jogadores fazem uma fase de seleção de cartas no melhor estilo “7 Wonders” e ali precisam decidir o que comprar para a rodada e o que tirar da mão de outros jogadores. Um elemento muito importante do jogo são as cartas, elas fazem Ilha dos Gatos se elevar em relação a outros jogos do gênero, porque as cartas ditam não só quais ações você vai ter mas também como você vai pontuar, as cartas de Aprendizado definem a estratégia de cada partida, e elas podem ser públicas ou privadas, e não adianta traçar uma estratégia baseado em uma carta de aprendizado, porque ela pode ser descartada por outro jogador na seleção de cartas. É preciso preencher o barco considerando o agrupamento de famílias, as cartas de aprendizado, os ratos no convés, e os cômodos que o jogador precisa preencher para evitar muitos pontos negativos no final, mas não é um jogo só sobre cobrir todos os espaços, nem sobre resgatar mais gatos, a pontuação depende bastante das cartas de aprendizado. O modo solo é excelente com um mecanismo diferente de pontuação da I.A.

4) My City
Esse jogo do Reiner Knizia proporciona uma experiência única nos jogos de tabuleiro. Ele mistura a progressão dos jogos “Legacy” com a simplicidade do mecanismo de preencher grades usando tiles. É fantástico como a curva de incremento de mecanismos de pontuação do jogo prendem o jogador partida após partida, enquanto o jogo essencialmente permanece igual. Não posso falar muito sobre os mecanismos desse, pois parte do jogo é a descoberta.
Uma grande experiência Legacy e um dos melhores jogos de um dos melhores autores do mundo.

5) Patchwork
Tal qual Pan-Kai, Patchwork também é um jogo exclusivo para dois jogadores. Apesar de preencher a grade ser de grande importância no jogo, ele se destaca pelo desafio de não só gerenciar a quantidade de botões que você tem, como também o seu “tempo” dentro do jogo. Em patchwork cada peça tem um custo em tempo e/ou botões, ambos seus recursos limitados. Além disso, se você gasta muito tempo, o jogador que ficou para trás pode jogar vários turnos seguidos até ter gasto mais tempo do que você, e isso tem um enorme poder decisivo no jogo. Patchwork é uma obra-prima de game design elegante e desafiador.

6) Project L
O visual minimalista todo preto com peças em cores vibrantes é uma das minhas produções completamente abstratas favoritas no hobby. Project L se destaca por ser, além de um jogo de tetris, um jogo de “construção de máquina”. Ele propõe uma experiência estratégica parecida com jogos como Splendor ou Century, onde toda peça que você completa diminui o número de ações que vai precisar para completar outra peça, de modo que nos últimos turnos o jogador tem uma máquina de completar cartelas. Lindo e de regras extremamente simples, Project L tem uma experiência tátil viciante, além de ser um quebra-cabeça dos mais gostosos. Algumas falhas no balanceamento foram detectadas na primeira versão das regras do jogo, mas o manual com os ajustes pode ser encontrado na Ludopedia ou BGG.

7) Tiny Towns
Tiny Towns usa poliminós de forma diferente, não existem “peças” para serem colocadas, aqui o jogador deve construir a forma usando recursos, cada forma representa uma estrutura diferente, uma vez que o jogador tenha criado o poliminó certo no seu tabuleiro, ele pode trocar pela construção correspondente e também recuperar os espaços que estavam sendo utilizados para a construção do poliminó. O mais divertido de Tiny Towns é a interação, os jogadores sempre jogam ao mesmo tempo e toda rodada um jogador na mesa chama o recurso que todos devem posicionar, com isso o jogador precisa se adaptar porque o espaço é limitado e ter um poliminó incompleto no tabuleiro pode causar sua eliminação na partida. O mecanismo pode ser frustrante para jogadores que não gostam de uma interação direta que frustre a sua estratégia, mas é justamente isso que faz TT um dos meus favoritos, porque no Tetris você não tem sempre a peça que você quer, você precisa arriscar, antecipar e ter um pouco (ou muita) sorte.

8) Cartógrafos
Cartógrafos é um jogo onde não existem peças, ao invés disso você desenha e/ou pinta as formas no tabuleiro. Eu gosto do empenho que alguns jogadores colocam em algo que não é requisito para pontos, isso adiciona uma camada ao cartógrafos que vai além da experiência de competir, ele convida jogadores adultos a voltar nos tempos de criança onde uma caixa de lápis de cor bem variada gerava horas de entretenimento. Cartógrafos é um excelente jogo de tetris porque mais uma vez o jogador precisa lidar com as peças que o jogo manda para ele, enquanto precisa planejar várias rodadas antecipadamente, muitas vezes reduzindo a pontuação de uma rodada para otimizar a pontuação de outra.

9) New York Zoo (Grok games)
Adoro jogos de corrida, New York Zoo deixa de lado a comum briga por pontos e vai na essência do mecanismo de preenchimento de grade: quem preencher primeiro ganha. Ele empresta o rondel de peças do patchwork e cottage garden, a diferença do NYZ é que em cada casa do rondel as peças estão empilhadas, sempre com a maior peça sobre as peças menores. As peças menores aqui são mais cobiçadas que as peças maiores, outra diferença importante, porque além do posicionamento de tiles o jogador precisa posicionar animais de modo que formem casais e se reproduzam. Quando um tile de cercado é completamente preenchido com animais do mesmo tipo, o jogador ganha uma atração especial, isto é, peças maiores ou mais flexíveis que podem colocar o jogador à frente na corrida, já que as melhores peças são limitadas.

10) Copenhagen
A ideia aqui é preencher a fachada de um prédio, uma linha completa vale um ponto e uma coluna completa vale dois, porém, se você preencher uma linha ou coluna somente com janelas a pontuação respectiva é dobrada. O jogador então precisa ficar atento ao tempo restante do jogo para decidir quando vale a pena adiar um ponto para ganhar dois, ou adiar dois para ganhar quatro. As peças são adquiridas descartando cartas da sua mão com a mesma cor da peça, e o número de cartas usadas deve corresponder ao tamanho da peça, então a gestão de mão também é bastante presente. Copenhagen é uma briga contra o relógio, já que toda vez que um jogador compra cartas no lugar de colocar uma peça o final do jogo fica mais próximo e o final da partida é bastante abrupto, saber usar esse fator vai garantir vitórias.

11) Arraial
Um recém chegado, já amado! Diferente de outros jogos dessa lista, Arraial tem uma “gravidade” igual ao Tetris. As peças estão “caindo” e o jogador precisa organizá-las de forma a fechar linhas. Outro ponto muito legal do Arraial é que o jogador pega as peças de uma base giratória compartilhada por todos jogadores, e você pode gastar ações para girar essa base antes de pegar as peças, isso porque você não pode girar e espelhar os poliminós do jogo, você precisa respeitar a orientação que eles estavam na roda. Isso torna o jogo bastante interativo, em especial com 2 jogadores, porque você não só escolher quais peças vão estar disponíveis para o seu oponente, como também pode decidir a orientação delas, forçando ele a gastar ações para girar as peças.

Menção Honrosa: Brikks
Nessa lista (e talvez de todas as listas) Brikks é o jogo mais fiel ao Tetris. A ficha remete aos gabinetes dos antigos fliperamas, e a ideia do jogo é exatamente a ideia do Tetris, inclusive ele adota até a mecânica de multiplicar pontos caso o jogador complete várias linhas ao mesmo tempo, que é a maior jogada do Tetris de Pajitnov. As peças do jogo são as mesmas do Tetris e, assim como em Arraial, elas também estão caindo e pararam conforme atingem outras peças e o jogador também precisa gastar energia para rotacionar a peça caindo. Quem fica sem espaço para colocar uma peça está fora da partida e espera os outros terminarem para compararem pontos.

Bom, falei aqui sobre jogos usando poliminós e mecanismos como “cobertura de grade” e “construção da padrão”. Embora a maioria dos jogos dessa lista possam ser considerados abstratos (alguns mais, outros menos) cada um tem bastante personalidade própria, mesmo com esse núcleo praticamente idêntico.
Essas são somente os meus exemplos favoritos de jogos de Tetris favoritos, você provavelmente odeia ou ama algum deles, então comente os jogos de Tetris que faltaram! Comente recomendações de mais jogos de tetris e eu vou atrás de todos que puder =)
Um grande abraço!

Júlio Novais, no hobby desde de 2016, mas ainda gosta de praticamente tudo que joga e toparia fácil uma partida de Banco Imobiliário. Adora jogar modos solo e dessa forma explorar um pouco mais cada jogo. Tem um fraco por rolls&write's e jogos com tema de terror e arqueologia. Sonha em pilotar uma X-Wing, mas é analista de sistemas. Filho do Nelson e da Irismar, já começou a vida rolando 20 e é muito grato por essa sorte.
Muito bom saber de tantas opções….gosto bastante do Odin e do Ilha dos Gatos, já joguei Patchwork e já quero conhecer esses outros. Muito bom texto Júlio!!! Parabéns!!!
Muito obrigado pelo comentário, Paula!
Nussa, sensacional demais a publicação. Vou verificar todos os que não conheço, hehe.
Um game nesse estilo que gosto muito é o boardgame do CITIES SKYLINES, é ótimo game solo.
Preciso conhecer, eu conheço o jogo digital. Obrigado pelo comentário!
Parabéns pelo conteúdo!
Tetris não é minha mecânica predileta mas, desses citados, Odin e cartógrafos gosto demais.
Valeu pelo feedback, Mike! Odinzão é bom demais!
Excelente artigo. Está de parabéns!
Opa Joantas, muito obrigado pelo feedback! Abraços