Catan, Carcassone e Dominion são bons exemplos de jogos que marcaram época. Eu acredito que o elegante Azul, de Michael Kiesling, seja o jogo mais recente a atingir esse marco.
Quero falar sobre o que acho de cada uma das versões e dar uma pequena ideia de como eles funcionam para quem ainda não os conhece.
Já podemos falar que o Azul é uma franquia. Lá em 2017 saiu o primeiro jogo, com o nome Azul.
Nele, o grande destaque é a sua simplicidade. Em Azul, teremos dispostas no centro da mesa algumas fábricas de azulejos (parecem porta-copos), e em cada uma delas, 4 peças de azulejos colocadas aleatoriamente. Em seu turno, o jogador da vez deve escolher uma dessas fábricas, e então escolher uma cor dentre os azulejos disponíveis nela para levar para seu tabuleiro individual, sendo obrigatório pegar todas os azulejos do mesmo tipo. Destaque para peças de azulejo, quadradas, que são muito gostosas de manusear.
Após um jogador pegar uma ou mais peças de uma fábrica, as peças restantes devem ser movidas para o centro da mesa, onde irão se acumulando e continuarão disponíveis para os jogadores. As regras para pegar peças no centro da mesa são as mesmas: Todas as peças da cor escolhida deverão ser coletadas.
No seu tabuleiro individual é que acontece a “mágica”. Existem algumas áreas: Uma é sua reserva, onde as peças selecionadas (da fábrica ou do centro da mesa) deverão ser posicionadas em uma única linha. Cada linha pode conter de 1 a 5 espaços, e comporta apenas uma cor de azulejo por vez.
A área colorida é onde você irá colocar, após o fim de cada rodada, as peças da sua reserva cujas respectivas linhas estejam totalmente preenchidas. Nessa área, já está impresso onde deverá ficar cada cor de azulejo. O jogador irá pegar um dos azulejos da linha e posicionar em cima da cor nessa área, descartando o restante. A partir de agora, essa linha estará novamente disponível para uso, mas não poderá receber mais azulejos daquela cor já preenchida. O posicionamento dos azulejos é a forma como os jogadores pontuam no jogo. Cada azulejo colocado na área colorida dá 1 ponto ao ser posicionado, e mais 1 ponto para cada azulejo adjacente ortogonalmente.
Caso um jogador pegue uma quantidade de peças que não possam ser colocadas em uma das 5 linhas, as peças excedentes devem ser colocadas na trilha dos azulejos quebrados, que darão pontos negativos no final da rodada. Lembre-se de que os azulejos coletados na fábrica ou no centro da mesa não podem ser divididos entre as linhas.
Ainda no tabuleiro individual, temos um resumo de pontuação de fim de jogo e a trilha de pontos.
O conceito das fábricas e de ter 4 peças nelas foi criado nesse Azul, e como vocês verão, foi sendo reutilizado nos próximos jogos da franquia, sempre tendo um toque especial na forma de colocação dessas peças e na forma da pontuação. Pra mim, esse primeiro Azul é sinônimo de perfeição na franquia.
A simplicidade, a pontuação, a fluidez e a forma com que o jogo proporciona a interação entre os jogadores, faz com que o jogo se torne muito gostoso de jogar e deixa a vontade de jogá-lo cada vez mais.
O segundo Azul, é o Vitrais de Sintra – lançado em 2018.
Aqui, me pareceu que o Kiesling quis subir um degrau no grau de complexidade, trazendo novos elementos e uma nova forma de pontuar as peças. A mecânica central ainda é a mesma, com várias fábricas e sempre 4 peças em cima de cada uma delas. As peças continuam sendo quadradas, porém o tom de suas cores é meio translúcido, para dar o ar de vidro.
O diferencial é o tabuleiro individual, que agora possui algumas faixas com as cores das peças que devem ser colocadas. Quando uma faixa está completa, você escolhe uma das cores dela e aloca na parte inferior, para pontuar. Se for a primeira vez que estiver completando uma faixa, você irá virar ela pro outro lado e continuar jogando. Caso seja a segunda vez completando a mesma faixa, ela será removida da partida.
Outro elemento acrescentado nesse Azul, é o marcador de vidraceiro. Ele começa posicionado em cima da primeira faixa dos vitrais. Ao coletar peças de vidro das fábricas ou do centro da mesa, elas deverão ser alocadas em uma das faixas, e o vidraceiro deverá ser movido para a faixa escolhida. O vidraceiro só se movimenta da esquerda para a direita, ele nunca volta. Dessa forma o jogador só poderá colocar peças na faixa que está bem abaixo do vidraceiro ou, nas faixas à sua direita. Os jogadores podem optar por não pegarem peças no turno para retornar o vidraceiro para a primeira faixa à esquerda.
Uma outra característica implementada nesse azul, é um número fixo de rodadas, visto que o anterior não tinha um número fixo, mas era de pelo menos 5 rodadas de jogo. Em Sintra, teremos 6 rodadas, onde em cada uma delas, uma das 5 cores das peças do jogo será pontuada quando for completada alguma faixa contendo aquela cor. Como são 6 rodadas e apenas 5 cores, uma das cores será pontuada 2 vezes. Tanto a ordem quanto as cores a serem pontuadas, serão sorteadas aleatoriamente. O tabuleiro central mostrará essa ordem, além da trilha de pontuação e da trilha de peças “quebradas”, que renderão pontos negativos ao fim do jogo.
Quando conheci o jogo, achei muito bom, porém, à medida que fui jogando, percebi que o preço para subir o nível estratégico do jogo, foi deixá-lo mais confuso de se jogar e ao mesmo tempo mais cansativo. A escolha das faixas e de ter que virá-las, funciona muito bem na teoria, mas na prática, elas acabam por atrasar o jogo, pois precisa ter o cuidado de não esbarrar em outras coisas e fazer uma bagunça na mesa.
O jogo ainda é bom, mas não supera o seu antecessor.
O terceiro e último lançado aqui no Brasil é o Azul: Pavilhão de verão.
Continuando sua saga de aumentar o grau de complexidade da franquia, nesse Azul, ainda temos o mesmo conceito de fábricas com 4 peças em cada, porém as peças agora, são losangos e possuem 6 cores diferentes. O jogo será jogado em 6 turnos, onde em cada um dos turnos, uma dessas cores será um curinga (vale como qualquer cor).
Cada jogador possui um tabuleiro individual, com 7 formas de estrelas, uma de cada cor das pecinhas, e uma central que vai mesclar todas as cores. Além disso, nos quatro cantos do tabuleiro, existem 4 espaços que são um reserva, onde você pode guardar peças para futuras rodadas sem perder os pontos.
No tabuleiro central ficará uma reserva, contendo sempre 10 peças aleatórias, a trilha de pontuação, a informação de qual cor pontua na rodada, a pontuação de fim de jogo, além de um gabarito para saber quantas peças cada símbolo renderá ao ser cercado (Vocês entenderão mais a frente).
O jogo possui o mesmo conceito onde, no seu turno, você escolherá uma das fábricas, escolhe uma cor e pega todas as peças da mesma cor. Porém, além da cor escolhida, o jogador sempre pega também, se houver, uma peça correspondente à cor curinga da rodada atual. Não existe um reserva, todas as peças adquiridas ficam ao lado do tabuleiro individual.
Após esgotarem as peças nas fábricas, os jogadores vão posicioná-las em seu tabuleiro individual, nas estrelas respectivas às cores das peças selecionadas. Cada estrela possui 6 espaços para colocar peças e em cada espaço um número de 1 a 6. O número representa quantas peças daquela cor você precisa gastar para preencher o espaço. Ao posicionar, você sempre pode usar peças da cor do curinga da rodada, porém, para preencher os espaços de uma estrela usando coringas, você precisa obrigatoriamente ter uma cor relacionada com a estrela, por exemplo: Para preencher a estrela verde no espaço 3, você pode usar uma peça verde e dois curingas).
Além disso, entre as estrelas existem alguns símbolos de pilares, estátuas e janelas. Quando você preenche todos os espaços em volta de cada símbolo, você pode escolher peças dentre as 10 disponíveis na reserva do tabuleiro central.
No Pavilhão de verão, você pontua parecido com o primeiro Azul, cada peça posicionada, vale 1 ponto e mais 1 para cada peça ligada. Além disso, no fim do jogo, você ganha pontos extras para cada estrela completa.
Parece que o Kiesling aprendeu com os erros em Sintra e voltou a ter apenas tabuleiros “completos” e não faixas que mais complicam do que facilitam. A opção do curinga, deu uma opção mais estratégica pro jogo, até mesmo uma forma de se preparar e se planejar para rodadas futuras, visto que você sabe quais cores serão os curingas nas próximas rodadas. Porém, mesmo sendo em tese mais complexo e muito gostoso de jogar, pra mim, ainda não conseguiu superar o primeiro da franquia. É melhor que o de Sintra, mas a simplicidade do primogênito ainda me cativa mais. Pavilhão de verão fica em segundo colocado no ranking da franquia!
Agora em 2021, foi lançado o Azul: Queen’s Garden, ainda não anunciado aqui no Brasil.
OBS: Queria deixar claro, que sobre esse Azul especificamente, eu joguei apenas uma vez, li o manual em inglês e vi alguns vídeos gringos também. Tanto no manual da forma como interpretei, quanto com quem me ensinou as regras na partida e também em alguns vídeos que vi, todos eles têm algumas diferenças de regras, portanto, pode ser que eu descreva algo que talvez esteja errado. Não consegui material PDF do jogo ainda, nem mesmo no site da Next Move. Caso eu erre alguma coisa, prometo irei revisar o texto logo que for disponibilizada para o público uma versão do manual em português ou inglês.
É engraçado que, durante todos os lançamentos da franquia Azul e até mesmo aqui no texto, eu disse que o Kiesling foi subindo o grau de complexidade dos jogos. Já no Queen’s Garden, eu não consigo dizer que ele subiu esse mesmo grau. Pra mim, pelo que joguei e presenciei do jogo, é algo muito diferente dos demais para ser comparado. Até não sei se futuramente vão separar a franquia por temporadas ou algo do tipo, mas eu acho que esse dá inicio a uma nova cara pra franquia Azul.
Seus antecessores sempre giravam em torno de uma mesma característica. Aqui, a única coisa parecida é a de 4 peças disponíveis. Não temos mais fábricas, e no decorrer do jogo, nem mesmo apenas 4 peças vão estar disponíveis.
Vamos lá…
Estamos de volta a Sintra, mas agora, não vamos construir os vitrais e sim construir e decorar os jardins do palácio.
O jogo acontece em 4 rodadas. Possui um tabuleiro central, com a descrição das pontuações, possui também a trilha de pontos e, no centro, existe uma espécie de engrenagem, que determinará as pontuações de cada rodada.
As peças aqui, são em formato de hexágono e estão divididas em 6 cores. Além disso, elas possuem também 6 figuras diversas. Como o jogo não possui fábricas, são feitas 4 pilhas com os tiles de jardim. Essas pilhas são viradas de cabeça para baixo e cada uma delas representa uma rodada do jogo. Ao fim da quarta pilha o jogo se encerra.
Os jogadores pegam uma dessas 4 pilhas de tiles, a posiciona ao alcance de todos, e sorteia quatro peças para colocar em cima dela.
Cada jogador possui um tabuleiro individual onde possui uma reserva, que será usada para colocar as peças adquiridas durante suas ações, e a outra parte do tabuleiro é o jardim. Os jogadores já começam com uma peça central em seu jardim. A parte do estoque dos jogadores, possui 12 espaços para peças de azulejos e 2 espaços para tiles de jardim.
Em seu turno, os jogadores tem duas opções de ações agora. Pegar peças ou posicionar as peças/tiles em seu jardim.
Pegar peças: Toda rodada começa tendo apenas 4 peças disponíveis, o jogador para pegar essas peças, deve escolher pegar as peças por cor ou por símbolo.
Por cor: O jogador pega todas as peças da mesma cor, porém dentre essa cor escolhida, só pode pegar uma peça de cada símbolo.
Por Símbolo: O jogador pega todas as peças do mesmo símbolo, porém dentre esse símbolo, só pode pegar uma peça de cada cor.
Sempre que um jogador pega peças do tile que está no topo da pilha de tiles da rodada, esse tile é retirado de cima da pilha e colocado ao lado da mesma. Dessa forma o novo tile do topo da pilha, recebe agora novas 4 peças de azulejos. Assim pode acontecer que o próximo jogador do turno, tenha disponível mais do que 4 peças de azulejos para pegar, pois ele quando escolhe, pega peças de todos os tiles possíveis.
Uma outra coisa que acontece nesse momento, caso o jogador pegue a última peça em cima de algum dos tiles de jardim, o tile é virado. Todo tile, possui um azulejo já gravado em sua face revelada. Agora os próximos jogadores, ao selecionarem, cor ou símbolo, se for possível, também devem pegar o tile. Nesse momento ele conta como uma peça de azulejo.
Colocar peças e tiles em seu jardim: Aqui os jogadores pegam peças de sua reserva e colocam em espaços livres em seu jardim. Todos os jogadores já começam com um tile de jardim no tabuleiro individual, que já possui 6 espaços disponíveis para colocar peças.
Colocar uma peça: As peças possuem 6 diferentes símbolos, e cada símbolo tem um custo para ser colocado no jardim. Esse custo vai de 1 a 6. Toda peça em si, já conta como 1 para pagamento. Portanto, caso queira colocar uma peça roxa de custo 4, você deve pagar outras 3 peças por ela (Curiosidade, o cuidado com os componentes e beleza do jogo são tão bons, que cada símbolo nas peças é vinculado com o número de seu valor, por exemplo: 1 é apenas uma árvore, o 5 possui 5 folhas na imagem e assim por diante).
Mas o pagamento não é tão simples assim. Para pagar pelo posicionamento de uma peça, os jogadores devem gastar peças da sua reserva que sejam da mesma cor, ou do mesmo símbolo, inclusive pode ser pago com tiles de jardim que são da respectiva cor ou símbolo.
Colocar tiles de jardim: Para colocar os tiles de jardim é da mesma forma que as peças. De acordo com a ilustração no tile, você deve pagar com peças ou outros tiles de jardins, que sejam da mesma cor ou mesmo símbolo.
Importante lembrar que os jogadores possuem uma limitação de peças em sua reserva, caso uma jogada os faça pegar peças que excedam sua reserva, essa jogada fica impossibilitada de ser feita.
Mas qual o objetivo do jogo e como se pontua nele?
Pois bem, aquela engrenagem central que citei no início, determinará um conjunto de 3 elementos que pontuarão em cada rodada. Sejam cores ou símbolos, quando termina uma rodada, ou seja, um pilha de tiles de jardim, a engrenagem deve ser girada para os próximos 3 elementos.
Além disso o objetivo é fazer grupos com as peças, esses grupos são peças adjacentes. Aqui pode parecer confuso, mas tentarei explicar da melhor maneira possível…
Um grupo é formado a partir de duas peças adjacentes que estejam dentro dos critérios de um grupo. Porém, o grupo só passa a pontuar quando possui pelo menos 3 peças.
Grupos para pontuar vão ter no mínimo 3 peças e no máximo 6 peças. Grupos podem ser formados por cores iguais ou por símbolos diferentes, mas, grupos de cores iguais, não podem ter nenhum símbolo repetido e, grupos de símbolos diferentes, não podem ter cores iguais. Mas uma peça pode fazer parte de dois grupos diferentes.
Eu disse que era confuso…
Qualquer peça colocada que quebre essas regras de grupo está inválida e ,dessa forma, não pode ser colocada.
Outra coisa que temos no jogo, são as peças curingas, começamos o jogo com 2 delas, mas a medida que cercamos as imagens em nosso jardim, com peças de azulejos, podemos ganhar novas peças curingas.
Expliquei quase tudo do jogo, mas a ideia é dar apenas uma visão geral, de como funciona o jogo, sem entrar em minúcias.
Como puderam ver, existe algumas semelhanças com os seus antecessores, porém é o mais diferente de todos eles. Como disse sobre o Kiesling estar subindo degraus em complexidade, aqui eu não acho que ele subiu um degrau, mas sim fechou uma porta para a trilogia passada e abriu uma nova.
Usando uma citação que o nosso querido amigo Torugo do Canal Mesa Secreta fez quando foi falar do Pavilhão de Verão, Kiesling participou de uma trilogia famosa, que teve seus jogos lançados em sequencia de anos, que é a trilogia das Máscaras (Mexica, Tikal e Cuzco). Talvez a ideia foi fechar a trilogia, visto que saltou um ano pro lançamento do Queen’s Garden e quem sabe começar algo novo, usando alguns elementos, mas um jogo não mais para família e sim para jogadores mais “expert’s”.
O caso é que Queen’s Garden é um ótimo jogo, me deixou com uma excelente primeira impressão e com muita, mas muita vontade de jogá-lo novamente. Mesmo deixando ainda mais distante a simplicidade do primeiro Azul, continua tendo sua elegância, essa característica o nosso querido “Mike” (Já virei íntimo), tem usado com sabedoria. Reforçando, eu o vejo, como disse, para jogadores mais experientes e não para família. Espero não ter errado as regras, mas reforço que assim que eu tiver acesso ao manual e consiga ler novamente, eu corrijo aqui no texto se ver algo de errado. Espero também que logo a editora relacionada com uma iguana anuncie ele aqui por terras tupiniquins.
Um grande agradecimento ao querido Fabs Fabuloso por ter revisado o texto! 😀
Espero que tenham gostado, deixe um comentário e compartilhe!
Eu tenho jogo base, mas gostaria de repor as ceramicas vermelhas por novas, onde eu posso encontrar a venda separada?