*Este texto foi escrito em janeiro/2021, mas eu esqueci de finalizá-lo e publicá-lo. Foi mal.
Depois de um ano esquisito como foi 2020, chegamos ao tão esperado 2021, o ano da vacina. Durante o ano passado, nosso hobby foi reinventado de inúmeras formas, além de ter sido descoberto por um número enorme de pessoas. Jogatinas online mais frequentes, muitas famílias começando no hobby, muitos jogadores se formando em suas casas, fruto do distanciamento social.
Os eventos foram cancelados ou se tornaram eventos virtuais, os produtores de conteúdo se adaptaram a uma realidade de muito menos – ou zero – jogatinas presenciais e as plataformas digitais se tornaram muito populares entre as pessoas que já tinham o hábito de jogar jogos de tabuleiro.
Explosão no câmbio e consequentemente no preço dos jogos de tabuleiro. Demanda elevada e jogos esgotando em poucas horas. Enxurrada de instagrams dedicados aos jogos… muitos mesmo!
Com a promessa de um 2021 um pouco mais normal, como ficam os jogos de tabuleiro no Brasil e no mundo? O que nos aguarda nesse novo ciclo?
O CENÁRIO GLOBAL
Com mais garantias e certezas em relação aos calendários de vacinação nos principais mercados do mundo, a tendência é que os jogos de tabuleiro consolidem o crescimento global do período da pandemia e voltem a operar da forma mais tradicional, agora com mais fãs.
O nosso pequeno nicho está cada vez maior e cada vez mais sólido. A indústria que um dia foi só milionária, hoje em dia é bilionária com alguma margem.
OS JOGOS NO BRASIL
A pandemia trouxe, inicialmente, uma incerteza muito grande para editoras e lojistas. Mas se faz necessário sobreviver e, por isso, do meio do ano para frente vimos uma retomada forte das editoras, principalmente em relação a lançamentos, anúncios, conteúdos…
As vendas do segmento foram recorde. Um ano que se mostrava complicado acabou trazendo um resultado muito acima do esperado lá atrás, em março, durante o período de maior insegurança em relação à pandemia.
Não foi muita gente que comentou o assunto, mas na abertura do Spoiler Fest, da Galápagos, o CEO da empresa, Yuri Barbosa, afirmou que eles venderam mais de 260.000 jogos no ano de 2020.
Eu me lembro que, em 2017, se discutia nos bastidores uma suposta bolha do mercado, uma vez que tínhamos 230 jogos lançados naquele ano e, com toda certeza, não tinham sido vendidos 230.000 jogos no ano (a tiragem mínima de cada jogo é de 1000 unidades, de forma geral). Hoje, sozinha, a Galápagos já vende mais que esse número de jogos. Um crescimento impressionante e um número muito expressivo.
Além disso, vimos grandes jogos chegarem ao mercado brasileiro e os lançamentos no Brasil ficarem cada vez mais próximos dos lançamentos globais. O meu Unicorn Fever, edição do Kickstarter, ainda nem chegou e o jogo já foi lançado no Brasil há um tempo. Paris, Cleópatra… vários jogos chegaram cedo por aqui e essa tendência parece que vai continuar em 2021.
OS ERROS…
Como nem tudo são flores, durante o ano de 2020 vimos várias polêmicas envolvendo trabalhos de tradução, localização e também a qualidade de produção de alguns títulos. Na minha opinião, uma consequência natural, mesmo que incômoda, do crescimento acelerado do segmento. Apesar disso, aposto em um 2021 com muito menos problemas desses.
As empresas cresceram rápido demais e ainda estão se ajustando, mas a gente chega lá. Mais um pouco de paciência e a gente chega lá.
AS EDITORAS
Com um ano surpreendentemente bom, as editoras começam a se estruturar mais e eu aposto que passarão a contratar mais pessoas, profissionalizando muitas áreas que hoje são improvisadas.
Se você sonha em trabalhar com jogos de tabuleiro, se liga nessas áreas:
- Comercial
- Marketing
- Produção de Conteúdo
- Logística
- Redação, tradução e revisão
Eu aposto que teremos anúncios de novas vagas para esses profissionais.
O risco é a crise econômica associada à pandemia. É um fato que o mundo empobreceu nesse período e essa realidade afeta de maneira mais forte países pobres, como o Brasil.
Segundo a UNICEF, mais de 20 milhões de brasileiros chegaram a não ter o que comer em função dos impactos da pandemia (https://noticias.r7.com/brasil/mais-de-20-milhoes-deixaram-de-comer-na-pandemia-diz-unicef-11122020)
Os impactos da pandemia não param por aí e, com essa realidade posta, jogos de tabuleiro não são exatamente prioridade para muita gente.
OS MAIS AFETADOS PELA PANDEMIA
Apesar das vendas do setor terem crescido consideravelmente este ano, uma parte dos players do mercado ficou extremamente prejudicado pela pandemia. Lojas físicas e luderias, que contavam com a presença das pessoas em seus espaços, se viram enfrentando uma realidade cruel de faturamento abruptamente reduzido e muitas incertezas.
Muitas fecharam as portas, outras tantas estão batalhando, tentando sobreviver. Por isso, se conseguir, apoie uma loja ou uma luderia local, elas precisam de você. Existem muitos jeitos de apoiá-los sem precisar sair de casa ou coisa que o valha.
Em função desse novo cenário, ficou mais evidente uma concentração das vendas em alguns lojistas maiores, o que me parece que tende a profissionalizar bastante o mercado: quer entrar pra valer? Vai ter que oferecer valor real para o consumidor, não adianta mais apenas brigar pelo menor preço no Compara Jogos.
E EM 2021?
Este é um ano muito importante para o nosso mercado. Um ano de expansão e consolidação. A Galápagos é, de longe, a maior empresa do segmento. Com o Grupo Asmodee, a empresa que já era líder desse mercado passou a nadar sozinha. Hoje, o segundo lugar está tão distante da Galápagos quanto o Messi está distante do restante do time do Barcelona.
A tendência é que essa diferença cresça caso as editoras menores não consigam tração para um crescimento acelerado e sustentável.
MAS QUEM É O SEGUNDO LUGAR?
Bom, nas minhas análises e reflexões, vejo 6 empresas disputando esse posto. Não vou entrar em detalhes, mas provavelmente são as mesmas 6 que você acabou de pensar. Eu as chamei de “Runner Ups”, ou seja, as atuais vice-campeãs.
Todas elas, para mim, compartilham uma característica: possuem um ou mais produtos já estabelecidos como produtos “estrela”, que estão crescendo sua participação de mercado e crescendo o volume de vendas. Isso não significa que têm o mesmo resultado financeiro, porém, têm a capacidade de gerar tração com esses títulos e, na carona deles, emplacarem um mix de produto que venda bem e seja perene.
Qual delas vai se estabelecer? Não dá para saber.
O certo é que, se ninguém tomar esse posto, o Grupo Asmodee tem títulos suficientes e a Galápagos tem um trabalho bom o suficiente para ocupá-lo sozinha.
MAS E A ESTRELA?
Para quem não viu, a Brinquedos Estrela – aquela mesma do Monopoly que não é Monopoly, do Dobble que não é Dobble e outros tantos do tipo – anunciou uma linha “Premium” e vão lançar 3 jogos de autores brasileiros. Tote Monstros, Herdeiros do Khan e Rasher.
Em primeiro lugar, parabéns aos autores que tiveram seu trabalho reconhecido. Alguns deles são figurinhas carimbadas do cenário de autores no Brasil, como o Rodrigo Rego, um dos autores do Herdeiros do Khan.
Mas voltando ao tópico central, a entrada da Estrela nesse mercado AINDA é uma grande incógnita. Ela não veio com nenhum título grande o suficiente para enfrentar de peito aberto as grandes linhas da Asmodee ou mesmo da Devir no Brasil. No entanto, com a capacidade de distribuição da empresa, sempre fica a dúvida de como será feito este trabalho. É um fato que a Estrela está nas maiores lojas de brinquedos do país, em todas as grandes redes, nacionais ou regionais. O ponto de partida já é muito bom.
Vale lembrar que a Grow, com uma distribuição também muito grande em redes de brinquedos, fez uma tentativa de entrar nesse mercado em um outro momento, com jogos muito mais renomados, e não foi bem sucedida. Catan e Carcassonne não foram capazes de manter a Grow nesse mercado por muitos anos. Como será essa entrada da Estrela afinal?
Para nós, hobbistas, será bom ou ruim?
Não espere dessa linha “premium” a qualidade padrão dos nossos jogos atuais. Eles ainda serão jogos para o mercado mais massificado, mesmo que “Premium”. A Estrela se coloca em todas as redes de lojas que baseiam seu modelo de negócio em disputa por preço e margens astronômicas. Isso inviabiliza a produção mais caprichada. É só ver as capas dos jogos anunciados e rapidamente a gente consegue ver uma tendência de jogos alemães dos anos 90 neles.
Neste capítulo, vale esperar para ler o final.
E para você, como enxerga 2021 para o mercado de jogos? Pessoalmente, você se vê comprando mais jogos ou comprando menos jogos que no passado?
Conta nos comentários.
Gostei da análise, da minha parte não tô colocando muita fé na estrela não, no sentido de revolucionar esse mercado/hobby. Nós somos bastante exigentes em termos de qualidade dos componentes em geral, desde a caixa até as cartas e marcadores, não creio que a estrela vá se destacar nesse ponto. E vai ser difícil conseguir um título ou franquia capaz de peitar os que Galápagos, Devir, etc já representam.
Vamos esperar pra ver o quanto que eles estão interessados em investir (pesado) nesse mercado.
Olá Renato!
Gosto muito das suas abordagens analisando o mercado porque é algo que normalmente é abordado dentro das relações editoras/lojistas, e nós como jogadores/consumidores não temos uma visão um pouco mais “interna” para avaliar com mais embasamento.
Dentro da pouca informação acessível que temos está a Ludopedia. Eu compilei parte das informações dos jogos lançados no Brasil entre 2015-2020 da Ludopedia e realizei uma análise. Pretendo divulgar para as editoras e alguns produtores de conteúdo enviando o arquivo por e-mail antes de publicar na Ludopedia. Consegui o email da Geeks N’ Orcs no site, mas não consegui de nenhuma forma um e-mail de contato do Covil (já que a Ludopedia não permite mais a troca desses contatos por mensagem direta). Você poderia me passar um contato de e-mail do Covil (meu e-mail vai cadastrado no sistema de mensagem do site). Até a próxima semana devo enviar o material (é apenas uma análise possível baseada nos dados disponíveis), antes de publicar na Ludopedia. Muito obrigado, e continue com o trabalho nos mostrando mais da visão de mercado para o hobby.
Fala Ivan! O email do Covil é covildosjogos@gmail.com
Abraço!