
Enquanto sofro para escrever o segundo capítulo da série sobre o Xadrez (resumir biografias não é fácil), resolvi andar um pouco com outras pautas.
Fui convidado pelo Paulo para participar da votação do Dragão de Ouro – Jogo Expert (bem, na verdade, eu meio que me convidei, mas ele aceitou, então está valendo)!
Ainda não gravamos e, a bem da verdade, ainda não decidi meu voto. Este texto é uma forma que encontrei de me obrigar a organizar os meus pensamentos sobre quais jogos eu considero elegíveis e com isso minimizar as chances de cometer alguma injustiça.
Aqui cabe uma observação: injustiça, para mim, seria esquecer de um jogo que eu gosto e acabar votando em algo de que gosto menos por negligência. Se por acaso eu escolher algo que você, a torcida do Flamengo e do Corinthians, juntas, não aprovam, pode ser um indicativo de que eu tenho um gosto estranho e peculiar, mas NÃO É INJUSTIÇA!! Eu tenho todo o direito de estar errado!
O Paulo ainda não nos forneceu o regulamento formal do Prêmio, mas pelo que entendi das outras edições, a ideia é trabalhar com jogos lançados no Brasil durante o ano (no caso, o fatídico 2020). A definição de “Jogo Expert” é meio vaga, mas eu vou considerar jogos com peso igual ou maior que 2.5 no BGG.
Sendo assim, o primeiro trabalho foi olhar a lista da Ludopedia e verificar os jogos lançados no Brasil em 2020. Foram 355 jogos. Olhando mês a mês, me concentrei em jogos que me pareciam destaques e que poderiam ser considerados (ainda que com boa vontade) jogos “de experts”. Fiquei com uma lista de 39 jogos (após resolver algumas inconsistências, como por exemplo a lista ter On Mars e Rococo, mas não ter o Vinhos).
Desses 39 jogos, tive a oportunidade de jogar 18. Desses 18, apenas 10 fazem o corte de peso maior que 2,5 (o que, olhando os jogos, me pareceu um pouco inconsistente, mas preferi manter o conceito).
Então, a minha shortlist ficará com esses 10 jogos, mais 5 que, embora ainda não tenha jogado, entendo que são lançamentos muito relevantes que precisam ser avaliados de alguma forma. Estou me organizando para jogar a maioria deles o mais rápido possível e poder dar o voto mais abalizado que eu puder.
Eis a lista, organizada de acordo com os jogos que eu já joguei e a nota que possuem no BGG.
Vou comentar cada um desses quinze jogos aqui, tentando não dar muito spoiler de quais serão meus votos (com exceção de um, que foi inevitável):
Rococo – Excelente jogo de Matthias Cramer, Stefan Malz, Louis Malz que mistura gestão de mão e controle de área em um tema muito criativo, que é vestir os cortesãos para uma festa em Versailles. Não joguei a versão nova, apenas a antiga, mas vi a versão da Mosaico e ela é maravilhosa (a Mosaico sabe disso e cobrou por ela o seu peso em ouro).
https://www.ludopedia.com.br/jogo/rococo-deluxe-edition
Maracaibo – Tirando o Gloomhaven, talvez tenha sido o lançamento mais badalado do ano. O jogo em si é excelente, embora me pareça um certo pastiche dos jogos anteriores do mesmo autor. Pesa um pouco contra ele também os problemas de acabamento que tivemos na versão nacional. A seu favor, o design, que consegue juntar diversas mecânicas de uma forma extremamente orgânica e uma curva de aprendizado bastante razoável para jogadores experimentados.
https://www.ludopedia.com.br/jogo/maracaibo
Vinhos Deluxe Edition – Pela primeira vez vendido diretamente no Brasil (embora seja uma versão importada), foi o jogo do Vital Lacerda de que mais gostei, justamente pelo motivo que os mais cracudos talvez torçam o nariz: as regras revistas são muito mais diretas e permitem um jogo bem menos burocrático que o normal do célebre designer português. A qualidade do produto é inacreditável, como quase tudo que a Mosaico tem trazido da Eagle-Gryphon.
https://www.ludopedia.com.br/jogo/vinhos-deluxe-edition
Marco Polo II: Ao Serviço do Khan – Só joguei pelo BGA. Achei muito bom, mas ainda prefiro a versão anterior. Nessa é mais fácil viajar? É! Mas acaba que o jogo fica muito focado nisso, enquanto o original tinha mais possibilidades a explorar.
https://www.ludopedia.com.br/jogo/marco-polo-ii-im-auftrag-des-khan
The Red Cathedral – Joguei uma vez no TTS durante a Gen Con e fui iludido pela Devir, que cancelou o lançamento e a pré-venda da Amazon na última hora. O jogo é legalzinho, mas na verdade nem deveria estar aqui, pois ainda não foi lançado no Brasil. Forfait de programa (quem entender a referência, manda aí nos comentários).
https://www.ludopedia.com.br/jogo/the-red-cathedral
De Vulgari Eloquentia Deluxe Edition – Euro bem interessante sobre a Itália pré-renascentista. Possui várias mecânicas bem engendradas e diversas formas de pontuar. O que eu mais gosto nele é a forma de dar o gatilho de fim de jogo.
https://www.ludopedia.com.br/jogo/de-vulgari-eloquentia-deluxe-edition
Western Legends – Jogo que veio muito hypado, mas meio que sumiu após o lançamento (talvez até devido ao lançamento no apogeu da pandemia). É um jogo que precisa de mais gente na mesa para brilhar. Representa bem o tema, dando várias possibilidades aos jogadores de montar estratégias diferentes. Gostaria de ter jogado-o mais.
https://www.ludopedia.com.br/jogo/western-legends
Escape Plan – Talvez seja o jogo mais leve do Vital Lacerda até hoje. Resolve bem o tema de bandidos tentando fugir com o dinheiro roubado. Mas ainda possui um pouco daquelas burocracias barrocas do Vital. Como ponto forte, fica muito tenso quando a fuga é iminente. Você quer fazer algumas coisas para pontuar, mas se for o último a sair, pode perder muitos pontos. É uma espécie de “dança das cadeiras”.
https://www.ludopedia.com.br/jogo/escape-plan
As Tabernas do Vale Profundo – Boa mistura de deck building com alocação de dados. Ficou dentro do corte por muito pouco (talvez pela quantidade de elementos que possui). Esse jogo me lembra muito o Quacks of Quindleburg, do mesmo autor. É um daqueles jogos que fica no meio do caminho entre algo que podemos apresentar para leigos e algo que os mais experientes consideram fácil demais. É uma ótima pedida para quando queremos algo maior que um filler, mas não temos tempo para um pesadão.
https://www.ludopedia.com.br/jogo/the-taverns-of-tiefenthal
Paris – Lançamento de peso da dupla K&K (Kramer & Kiesling), Paris é um excelente jogo médio. Seu peso não vem das regras, que são simples, mas da interação entre os jogadores na mesa. O jogo mistura controle de área, set collection e gestão de recursos de uma forma bem interessante. O design do tabuleiro e a trilha de bônus são alguns de seus destaques.
https://www.ludopedia.com.br/jogo/paris
Gloomhaven – O que falar do jogo que ocupa a primeira posição do ranking da BGG? Bem, eu não posso falar muito, pois não joguei. Não é um jogo para todo mundo, pois exige comprometimento de um grupo por um tempo considerável. Eu não tive boas experiências com legacy games e não tenho a menor condição de me enveredar num dungeon crawler que pede mais de 100 horas de jogo. Por melhor que seja, eu vou passar esse (sim, isso é um spoiler – você não verá Gloonhaven na minha lista).
https://www.ludopedia.com.br/jogo/gloomhaven
Nemesis – Talvez seja o maior lançamento do ano em termos de jogos temáticos. O jogo de Alien sem o Alien, o jogo das Intrusoras! Ainda não joguei, mas pretendo fazê-lo antes da votação. Tenho muita expectativa em relação a ele.
https://www.ludopedia.com.br/jogo/nemesis
On Mars – Ainda não joguei, mas estou me organizando para isso. Embora eu não seja lá um grande fã do Lacerda, sei que esse jogo é tido por muitos como o melhor dele e provavelmente é um dos melhores do ano.
https://www.ludopedia.com.br/jogo/on-mars
Viscondes do Reino Ocidental – Terceiro e último (acredito eu) jogo dessa série. A cada jogo, esses autores geram detalhes criativos para a mecânica de alocação de trabalhadores. Eu gostei muito dos dois anteriores e estou muito curioso em relação a esse. Já está aqui em casa, falta arrumar parceiros para jogá-lo de forma presencial.
https://www.ludopedia.com.br/jogo/-viscounts-of-the-west-kingdom
Bonfire – Essa lista não estaria completa sem o grande lançamento de Stefan Feld, trazido de forma quase simultânea pela Vem pra Mesa Jogos. Eu conheço muito pouco desse jogo (tem tema?), mas me parece a tradicional salada de pontos Feldiana. Queria jogá-lo, mas não sei se está no TTS e também não conheço ninguém que o tenha.
https://www.ludopedia.com.br/jogo/bonfire
Disputa em Aberto
Na verdade, embora eu tenha algumas preferências, não consegui ainda bater o martelo para nenhum jogo. Dos que joguei, vários são muito bons, mas nenhum deles é espetacular.
Eu estava contando com o lançamento do Barrage em 2020, pois seria um TOP 1 muito fácil de escolher. Infelizmente (ou felizmente, para os torcedores dos outros jogos), este ficou para 2021, abrindo a janela para os demais.
Estou com aquela impressão que muitas vezes sinto no meio do desfile de segunda-feira das Escolas de Samba do Rio. Já passaram quase todas as escolas, todas bonitas, tudo legal, mas você sente que ainda não passou a campeã.
Que comecem as apostas! Escrevam aqui embaixo as impressões de vocês. Todos nós temos o direito de estar errados!
Feliz 2021!

Eduardo Vieira é analista de sistemas, e participa do Hobby desde 2018, mas vem tentando descontar o tempo perdido! É casado, mora no Rio de Janeiro e vive reclamando que não tem parceiros para jogar tudo que compra!
Excelente matéria!!! Grandes jogos e bons candidatos com certeza!
Ótima lista, Eduardo! Maracaibo, Vinhos e De vulgari são excelentes jogos. Ainda não joguei o On Mars, Bonfire e Escape plan, mas certamente são jogos que pretendo jogar futuramente. Barrage estou na expectativa!