À parte do nosso hobby dos jogos de tabuleiro, uma fatia do mercado de jogos e brinquedos no mundo é tomado pelos grandes colecionáveis competitivos. Magic: The Gathering é o maior expoente desse braço do mercado. No entanto, diferente do nosso hobby, jogar card games colecionáveis se tornou mais difícil com a pandemia.
Muito baseados no cenário competitivo, nos torneios realizados por lojas e pelas comunidades ativas, os card games sofrem, desde o início da pandemia, com as lojas fechadas. O ponto de encontro do jogador não existe mais. Ou será que não é bem assim?
No site ICV2, em sua coluna semanal, Scott Thorne, dono da loja especializada Castle Perilous Games & Books, mostrou um pouco mais do cenário dos grandes card games do mundo e como os 3 mais estabelecidos têm diferentes cenários durante a pandemia. Enquanto as vendas de Magic: The Gathering e Pokémon TCG não parecem estar sofrendo com a ausência de torneios no curto prazo, com Yu-Gi-Oh! já é um pouco diferente, o card game da Konami parece estar sofrendo bem mais que seus concorrentes.
Depois de ler a coluna de Thorne, eu parei um pouco para raciocinar sobre os porquês dessa diferença de comportamento.
Antes, vale frisar que você mesmo pode ler a coluna original aqui: https://icv2.com/articles/columns/view/46912/rolling-initiative-magic-d-d-time-covid-19
Para começo de conversa, Magic e Pokémon já são os líderes de seus mercados, muito a frente de seus concorrentes. Portanto, os jogos partem de pontos diferentes. Mas será que só isso justifica esse comportamento diferenciado das vendas durante o período pandêmico? Eu cheguei a uma teoria de que não.
Diferentes de seus concorrentes, tanto Pokémon quanto Magic possuem suas plataformas digitais e podem ser jogados virtualmente. No caso do primeiro, o Pokémon, a compra de produtos físicos impacta diretamente no jogo digital. Quando você compra um deck pronto, ele vem com um QR CODE que você usa para ter acesso àquele mesmo produto no jogo online. Quando compra um booster, recebe um QR CODE com o código para um booster da mesma coleção online. Simples assim. O consumo dentro da plataforma impulsiona o consumo fora dela.
Já o Magic: The Gathering é um pouco diferente. No Magic Arena o produto físico não te garante nada no digital. As conquistas e compras digitais são apenas para aquele universo. No entanto, Magic Arena e Pokémon TCG Online são plataformas que, na minha visão, permitem duas coisas importantíssimas para a manutenção da venda desses card games:
- Produção de conteúdo constante
A simples existência dessas plataformas facilita muito a vida do criador de conteúdo. Você passa a precisar de menos estrutura física e menos disponibilidade de tempo e pessoas para criar seus conteúdos. Conteúdo impulsiona vendas. Seja de que produto for, a produção de conteúdo sobre aquilo aumenta o awareness sobre o produto e o interesse em comprar as novas coleções. A vontade de jogar continua lá.
- Constante contato com novidades
Card games como Pokémon e Magic vivem de ciclos de renovação muito curtos. De três em três meses os jogos carecem de novos conteúdos para continuarem interessantes, competitivos e surpreendentes. Quando o metagame se estabelece, lá vem outra coleção para mudar tudo novamente. Nesse cenário, conhecer cartas novas, criar novas combinações e novos decks é importante para manter o público atento e querendo consumir as novas coleções. A vontade de jogar continua lá.
Paralelo a isso, temos a realidade dos board games. Nós vivemos um momento em que as pessoas estão jogando mais e consumindo mais. No entanto, o cenário também é como um pesadelo para novos jogos. Sem lojas, eventos e contato direto com o público, como fazer novos jogos ganharem força no mercado? Alguns já vêm com grife, como o recente Nemesis e os anteriores Viticulture, Maracaibo e Gloomhaven, mas e os que não vêm?
A internet e as ferramentas digitais continuam sendo grandes aliadas. O BGA viu seu catálogo crescer exponencialmente nos últimos meses e não é à toa.
Para que você possa recuperar um pouco da sequência dos fatos, se lembra dos torneios realizados pelo Covil no BGA? Kingdomino, Carcassonne, Saboteur e Pega em 6. Quais destes jogos não se esgotaram após os torneios? Exceto pelo Carcassonne, que é um jogo extremamente estabelecido e com uma trajetória longa no mercado brasileiro, todos os outros jogos dessa lista se esgotaram durante ou pouco após seus respectivos torneios.
O que é mais curioso, então, é que os jogos que mais se beneficiaram dessa atual realidade eram jogos que já estavam estabelecidos no mercado e já tinham, há muito tempo, suas versões nessas plataformas, reforçando o famoso ditado: quem chega primeiro bebe água limpa.
E pra você, como tem sido o período pandêmico? Você foi influenciado de alguma forma pelos torneios que viu aqui no Covil? Comprou quantos desses jogos? Conta aí nos comentários.
Comprei todos os quatro jogos citados depois dos torneios no BGA, e olha que eu mesmo só participei de um dos torneios.
O Yu Gi Oh tem algumas plataformas online, mas até onde lembro são todas não oficiais, além dos jogos da Konami. Mas o a versão mobile do card game da Konami, o Yu-Gi-Oh Duel Links, que chegou a 100 milhões de downloads em 2019, deve ser o suficiente para Konami não investir em outras plataformas.
Eu fiquei impressionado mesmo com esse detalhe da plataforma de Pokémon.