
Torneio da Gencon e Review
Como eu comentei no artigo sobre a Virtual Gaming CON, todas as grandes conferências de Board Game estão se adaptando ao “novo normal” criado pelo COVID e realizando versões digitais de si mesmas.
Para nós que moramos no terceiro-mundo, a crise da pandemia trouxe uma oportunidade. O acesso aos eventos era complicado. Pelo menos para mim, não é muito fácil abdicar de uma semana das minhas justas e merecidas férias para viajar sem minha esposa para os confins do meio-oeste ou para o interior da Alemanha a fim de ficar 4 ou 5 dias jogando e comprando jogos
Não que a ideia não me agrade, mas equacionar a conta de viajar para fora sem esticar a viagem para turismo (no caso de ir sozinho), ou imaginar minha mulher 5 dias querendo me matar numa cidade onde ela não terá o que fazer enquanto eu me encho de mais tralhas para levar para casa, convenhamos, não parece ser algo que melhore a harmonia do casal!
Porém, graças ao COVID, a GENCON chegou às nossas casas. E melhor ainda, com uma série de eventos em português, uma vez que a comunidade daqui se organizou para realizar uma série de eventos, Covil dos Jogos inclusive (que teve uma programação agitada, com lives temáticas, RPG e um gameplay de Dominion).
Da parte em português eu consegui assistir na quinta-feira uma excelente apresentação sobre o papel das Dinâmicas no design dos jogos, feita pelo Joshua Kritz, do Ludes, grupo de pesquisas em jogos da UFRJ. O conteúdo foi bem apresentado e a discussão foi de alto nível.
De resto, eu me concentrei mais nas jogatinas internacionais mesmo. Joguei bastante coisa nova (pelo menos para mim) na GENCON, e consegui me adaptar de vez ao Tabletop Simulator!
Mas a grande experiência para mim foi o Torneio de Arboretum, jogo moderno de cartas de Dan Cassar, produzido pela Renegade Games, que tem todo um quê de jogo de cartas clássico (a ponto de eu incluí-lo nesta série de artigos, os dois anteriores foram sobre os jogos de carta mais populares no Brasil e o outro foi um mini tratado sobre o Buraco).
Quanto ao torneio, joguei bem, fui a final, mas não deu pra trazer o caneco (fiquei em segundo lugar). Mas foi muito legal participar de um torneio desse tipo.
Sendo um jogo ainda não lançado no Brasil (embora esteja anunciado pela Conclave), fornecerei uma breve explicação e alguns aspectos táticos que eu derivei de minhas partidas.
Arboretum – Rápida Introdução

Usando um lindo baralho específico de 80 cartas divididas em 10 naipes (oito para cada naipe), o jogo se baseia apenas no naipe e no valor das cartas. Não há textos nas cartas, poderes especiais, combos, nada do gênero. É basicamente um jogo de set collection com gestão de mão. O segredo dele é quão apertado ele pode se tornar se os jogadores estiverem contando as cartas.
As regras são relativamente simples: de acordo com o número jogadores define-se a quantidade de tipos de árvore em jogo (6, 8 ou 10 para 2, 3 ou 4 jogadores). Então distribui-se 7 cartas para cada jogador e o jogo começa.
A cada turno o jogador pode comprar duas cartas, seja da pilha, ou do descarte de algum jogador. Após isso ele deve colocar uma carta no seu Arboretum (isso é, no seu jogo, na mesa) e descartar outra. O jogo segue assim até que alguém compre a última carta da pilha, terminando sua jogada normalmente e encerrando o jogo.
Os caminhos são sequências crescentes, não necessariamente consecutivas, de cartas de árvore que se liguem de forma ortogonal e que comecem e terminem com cartas do mesmo naipe.
Ao final do jogo, verifica-se quem pode pontuar em cada naipe e isso é feito verificando-se as cartas que cada jogador guardou em sua mão ao fim do jogo. Quem tiver a maior soma dos números das cartas em um determinado tipo de árvore tem o direito de pontuar um caminho daquele tipo (com o detalhe de que a carta de valor 1 cancela a de valor 8 que esteja com um adversário). Se houver empate nas somas da mão, todos os jogadores empatados podem pontuar.
Os caminhos pontuam da seguinte forma:
- Cada carta no caminho vale 1 ponto. Se o caminho for todo de cartas do mesmo naipe e tiver tamanho igual ou maior que 4, cada carta vale 2 pontos.
- Caminhos começados pelo 1 ganham um ponto extra.
- Caminhos terminados pelo 8 ganham dois pontos extras.
Na figura abaixo temos uma explicação dos caminhos:
Neste exemplo, o jogador possui 3 caminhos em potencial: o caminho do carvalho (oak), o caminho do Jacarandá e o do Flamboiã (Royal Poinciana, tive que procurar essa no Google). Mas para pontuar ele precisa ter a maior soma de pontos na mão desses naipes. Digamos ele tenha guardado o 8 Oak, mas seu adversário esteja com o 7 e o 3, impedindo a pontuação (10 é maior que 8). Já no Jacarandá, digamos que ele tenha o 7 e o 4, fazendo a maior soma, o que lhe permite fazer os sete pontos. Por fim, digamos ninguém guardou cartas do flamboiã, e então todos os jogadores pontuarão um caminho com essa árvore!
Quem tiver mais pontos de caminho é o vencedor!
Aspectos Táticos
Arboretum é um jogo muito apertado. Como o tamanho da mão é fixo, você rapidamente começa a sofrer não só para descartar como também para colocar suas cartas em jogo. Não dá para esconder o seu jogo por tempo demais, pois o jogo tem relativamente poucos turnos e você só pode baixar uma carta por vez.
No início da partida, você praticamente não tem muita informação sobre quem tem o que. Então é melhor evitar ceder cartas altas para o adversário. Dentro do possível, descarte cartas de valor mais baixo (mas não o 1, pelo menos não sem saber onde está o 8).
Como abertura, você não precisa começar com seu melhor naipe, mas é bom trabalhar logo as árvores mais promissoras, principalmente se você vai tentar fazer um caminho puro. Eu gosto de usar pelo menos uma carta de meio (4 ou 5), pois isso me permite crescer para qualquer lado, sem abrir mão do controle daquele naipe.
À medida que o jogo se desenrola, a maior parte das cartas serão abertas na mesa (seja no seu jogo e dos adversários, seja nas pilhas de descarte), o que nos leva ao principal conselho desse jogo: CONTE AS CARTAS. Isso vai lhe evitar muito sofrimento.
Esteja atento para comprar as cartas do descarte. Várias vezes saí do aperto abrindo frente com cartas descartadas pelos adversários. Lembre-se que você pode “cavar” o descarte de alguém comprando duas cartas do descarte dele.
Nesse jogo, é muito importante marcar os adversários. Segurar o sete do caminho que ele está montando pode impedi-lo de pontuar, ou pelo menos exigir que ele segure uma carta a mais na mão.
Se bem jogado, Arboretum é um jogo de pontuação baixa. Vinte pontos normalmente ganharão a partida. Então, jogue de forma conservadora, presuma que as cartas que você não viu estão na pior localização possível, e aja de acordo com isso. Se você está precisando se arriscar, as chances estão contra você.
Conclusões
Arboretum premia o jogador que presta atenção em tudo que passa na mesa e que conta os naipes.
O baralho é de excelente qualidade, sendo inclusive de fácil embaralhamento. Eu sleevei mais por força do hábito do que por necessidade.
O ponto fraco é que, infelizmente não é um jogo tão fácil de pôr na mesa. É aquele tipo de jogo onde os casuais se frustram e os gamers subestimam. É uma pena, mas elegância e complexidade com poucos elementos são características pouco valorizadas.
O público-alvo desse jogo está em jogadores que gostam de jogos de cartas tradicionais e jogos de vaza modernos com muita interação indireta. A capacidade de contar as cartas e os turnos rápidos serão bem aceitos por esse tipo de jogador e tornarão as partidas rápidas e vibrantes.
Na minha opinião, é um clássico moderno dos jogos de carta e por isso merece figurar nesta série.
Torço para que a Conclave honre logo seu anúncio e traga essa pequena maravilha para terras brasileiras, de modo a que possamos ter nossos próprios torneios por aqui!
Referências: Arboretum Rulebook – https://static1.squarespace.com/static/54148cdae4b05a3412bfa19b/t/5b1ecb5f70a6ad2f61bde0b6/1528744823197/Arboretum_RuleBook_4Web.pdf

Eduardo Vieira é analista de sistemas, e participa do Hobby desde 2018, mas vem tentando descontar o tempo perdido! É casado, mora no Rio de Janeiro e vive reclamando que não tem parceiros para jogar tudo que compra!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Avaliações
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Eduardo
Taí um dos jogos que fiquei bem interessado, especialmente depois de acompanhar suas partidas na GenCon. Simples mas que requer pensar, tática, me interessou bem!
Parabens, Du, mais um ótimo texto!
Valeu Gabriel!
Se você quiser conhecer, tem mod no TTS, bem tranquilo de usar.
Podemos marcar de jogar.
Sds,
Eduardo