Olá pessoal acompanha o Covil dos Jogos, espero que estejam bem (físico-mental) diante do cenário de pandemia. Desde o dia que Paulo postou que o site abriria espaço para os apoiadores do Covil contribuírem com mídia escrita na coluna “Fala Covileiro”, confesso que uma inquietação e desejo de expor ao menos um relato pessoal, se tornou algo estimulante e desafiador. Desafio por dois motivos: criticidade ao avaliar a relevância do conteúdo e o distanciamento com elementos da textualidade. Todavia como em um jogo, a experiência do tentar e calcular possiblidades, torna o percurso de construção extremamente estimulantes. Dito isto, vamos ao que interessa.
Parafraseando o cantor Belchior, “a minha história é talvez igual a tua”, como adolescente de classe média vivendo em uma cidade do interior no final dos anos 90, o acesso aos jogos de tabuleiro e ao emergente mundo dos videogames(consoles) eram uma realidade distante. Dependíamos das datas festivas como (aniversário e/ou natal) para adquirir os jogos, porém, o mais comum era partilhar da diversão com amigos que já os possuíam. As jogatinas eram totalmente desprovidas de análise crítica, interessava-me pelos aspectos secundários como interação social e sensorial que os momentos proporcionaram. Portanto jogos como: war, imagem em ação, banco imobiliário, combate e detetive, serviram para semear o campo das ideias e do lúdico, que intuitivamente aparecerão mais à frente na minha história.
Os anos 2000 estão marcados pela facilidade de acesso aos consoles, despertando um afastamento natural dos jogos de tabuleiro, abro um parêntese para destacar que tive dois hiatos, um de 10 anos e outro de 08 anos sem contato direto com os jogos analógicos, ou seja, 18 anos sem acompanhar as transformações no universo dos board games.
“A intuição não costuma falhar” apareceu no primeiro hiato em 2010. quando estava desenvolvendo o trabalho de conclusão de curso (TCC) em Ciências Biológicas junto ao companheiro Klesley. Decidimos montar um jogo de tabuleiro para facilitar o ensino de conceitos Bioquímicos para alunos do ensino médio.
Mais maduro e crítico, fui revisitar os jogos que tinham semeado minha adolescência, fazer uma análise do que eu gostava e não gostava em cada jogo. Aspectos como tempo de espera(downtime) do War, baixo apelo visual dos discos de exército, eram aspectos que poderiam ser melhorados em um jogo. Adorava o apelo visual do mapa mundi e a temática guerra. Tinha clareza que jogos de “perguntas e respostas” como Imagem e Ação são adorados pelos estudantes, o fator competição e interação social é altíssimo, entretanto, a punibilidade de algumas cartas de ação poderia frustrar o(s) jogador(es).
Utilizamos destes elementos como inspiração na composição do jogo e o resultado foi animador. Me recordo do envolvimento dos alunos com a proposta e a felicidade de comentar “- assim é muito mais divertido aprender”. Por fim, retroalimentei a sensação boa que os jogos analógicos me proporcionaram na adolescência.
Após a experiência produtiva, entra o período em que a obrigação ocupa mais espaço que a diversão. Passasse mais 08 anos afastados ou com interesse secundário sobre os jogos de tabuleiro. Até que em setembro de 2018, a escola que lecionava (ainda leciono atualmente) solicita um projeto para feira de Ciências em que a temática principal era “Empreendedorismo emocional”. De início não conseguia digerir a ideia, entretanto, a palavra “emocional” funcionou como gatilho para empurrar os jogos novamente na minha mira.
Ao entrar no Google e digitar “jogos de tabuleiro” salta uma matéria da revista Veja de título “Empresas paulistanas faturam com a retomada dos jogos de tabuleiro”; a foto principal da matéria com o fundo abarrotado de jogos e os números do mercado de vendas me impressionaram. Fui então para o Youtube e fiz a mesma busca, a quantidade de vídeos e materiais, quase todos utilizando o termo “board games modernos”, aguçou a vontade de pesquisar mais sobre a possível nova terminologia para os jogos de tabuleiro e simultaneamente assimilando a ideia de juntar este tal de board games modernos e empreendedorismo emocional.
Em buscas mais parametrizadas, encontrei três canais interessantes; o “Direto ao Ponto” do Alan Farias, pelo poder de síntese e o apreço ao falar dos jogos; o “Covil dos Jogos”, por explicar as regras jogando e a sensação de camaradagem que os membros passavam, lembrava-me das amizades na adolescência. O outro canal foi “Jack explicador”, onde conheci a profundidade técnica por trás da produção dos jogos modernos. Pronto, foi o suficiente para perceber que existia um universo paralelo desde o período que me afastei dos jogos (Risos). Com ajuda desses canais comprei meu primeiro jogo, o “Carcassonne”, ao assistir vídeos logo de cara fiz dois questionamentos; “– Como assim, podemos montar o tabuleiro? E o jogo era de 2002?”. A partir da pecinha quadrada do Carcassonne, comecei a estudar sobre; mecânicas, eurogames, cardgames, ameritrash, curva de aprendizagem, compreender o impacto do downtime em um jogo e outras expressões empregadas no hobby.
Lembram da feira de Ciências? Então, me propus o desafio de apresentar o conceito de jogos modernos para alunos do Ensino médio e que nunca ouviram falar sobre o tema. Obviamente que meu conhecimento era limitadíssimo, trabalhei de maneira basilar com 04 conceitos elementares; mecânica(s), narrativa(s), regras e objetivos do jogo, estruturei o seguinte tema: “Jogos analógicos como estratégia no desenvolvimento de habilidades sociais”. Importante ressaltar a participação do Amigo Alex Marques na empreitada, aceitando o desafio. Não irei aprofundar os detalhes metodológicos para não ficar maior o texto. Em síntese, trabalhamos com 04 jogos base (Carcassonne, Coup, The Resistance e Maldito Sejas Robin Hood!), exploramos os aspectos técnicos de cada jogo (conceitos base citados acima) e propomos dois desafios aos alunos.
- Construírem um espaço para apresentar e ensinar sobre os jogos analógicos;
- Desenvolver o protótipo de um jogo analógico ao longo das oficinas.
O resultado foi inspirador, não tínhamos dimensão do nível de envolvimento e interação social que os alunos desenvolveram durante a execução das atividades. Em cada oficina, nos novos desafios que surgiam, o diálogo como instrumento resolutivo por parte deles. Situações que fizeram-me refletir na práxis pedagógica e emocional.
Bom pessoal, ficou parecendo um caso de família (risos), mas esta postagem é um agradecimento aos guerreiros e guerreiras que constroem o hobby e que me inspiraram a; descobrir, redescobrir, aprender e reaprender, sempre acreditando no potencial transformador da ludicidade no ato de jogar. Meu segundo hiato encerrou-se em 2018 e estou na luta querendo aprender cada vez mais sobre o universo dos jogos. Saudações!!!!!
João Batista é paraibano de nascimento, potiguar de coração. Professor de Biologia, tem profundo respeito pela educação e seu potencial transformador na vida das pessoas. Vê nos jogos de tabuleiro uma ferramenta multiplicadora de experiências, vivências e aprendizagem.
Ótimo texto e inspirador. A gamificacao no ensino com ctza está entre as novas tendencias da Educação contemporânea. Parabéns amor 👏👏😉
Olá Karina, obrigado! Você é suspeita para falar. =)
Parabéns ao prof. João Batista pela sua contribuição dentro do espaço da educação, tornando -a mais envolvente para muitos. Os jogos são fontes de maravilhosas descobertas.
Olá Nael. É papel do professor propor os caminhos, o prazer da descoberta deixamos para os alunos. Obrigado, pelo feedback.
Perfeito!! Fico impressionada em como muitas pessoas ainda não conhecem esse grande universo dos jogos de tabuleiro modernos! As experiências que vivi com eles são indescritíveis e já não consigo imaginar a minha vida sem esses jogos! Espero que esse amor pelo hobby cresca e se espalhe ainda mais pelo Brasil, os jogos modernos são tesouros ainda não descobertos por muitos! 🖤
Olá Nathália, obrigado pelas palavras. Os jogos de tabuleiro podem proporcionar experiências transformadoras nas pessoas, por mais que ela não entre no Hobby, a oportunidade de experimentar algo novo em sua realidade se faz importante. Sucesso para @Calangogames_
Parabéns pelo artigo. Muito bom conhecer um pouco mais sobre sua trajetória, acredito que não acaba por aqui. Espero ler mais artigos com as novas ideias.
Sucesso!!!!!!
Obrigado meu grande amigo Alex.