Depois de dois reviews de lançamentos, volto a essa tribuna com uma ideia diferente.
A ideia hoje é valorizar o maior e mais perfeito utensílio lúdico já criado: o baralho francês de 52 cartas!
Pensem bem: peguem um card game modernos, como Dominion ou Magic. Quantos jogos diferentes você pode jogar com esses baralhos? Um. Ok, podem haver variações (mas que pedem novas cartas), mas a grande maioria dos apetrechos modernos são super especializados. São feitos para executar um conjunto de regras específico.
Já o baralho tradicional (escolhi o francês, que é o que nós usamos no mundo moderno, mas existem diversos baralhos com características parecidas) permitem a execução de forma satisfatória de milhares de jogos diferentes, com mecânicas totalmente diferenciadas.
Para se ter uma ideia, recomendo uma consulta ao site Card Game Rules (www.pagat.com). Antes de terminar a letra B, já estava em mais de 150 jogos, quando eu desisti de contar.
Em termos de mecânicas, segundo o site, existem 5 grandes categorias que se abrem em 22 subcategorias. Praticamente tudo com um ou dois conjuntos das mesmas 52 cartas (o site inclui jogos com outros baralhos e até dominós, mas é a minoria).
Eu não vou me atrever a detalhar tudo isso em um único artigo. Eu pretendo abrir uma série sobre o tema se este obtiver bom retorno.
O que vou fazer hoje é aproveitar um dos índices fornecido pelo site e discutir aqueles que (segundo eles) são os jogos de cartas mais populares do Brasil. Sim, eu sei que há grande risco de controvérsia aqui. Talvez o jogo mais jogado onde você mora não apareça. Eu mesmo vou dizer os jogos dos quais sinto falta. E não, eu não sou especialista em todos esses jogos, posso falar alguma besteira (críticas construtivas são bem-vindas).
A ideia é essa mesmo, ver o quanto isso está próximo da nossa realidade, uma vez que é um site internacional que conta com algumas colaborações de brasileiros (uma delas sendo deste que vos fala – o artigo original com as regras da Sueca foi escrito por mim, em plena década de 90).
São sete jogos citados como populares no Brasil. Vou citá-los e tecer breves comentários sobre eles. Desses, joguei 4. Vamos lá:
- King – É um jogo de vazas muito interessante, uma espécie de “decatlo” dos jogos de vaza. Na sua forma mais comum, é jogado em 4 pessoas, de forma individual. Ele é jogado em 10 rodadas, com 6 rodadas “negativas” (onde o objetivo é não ganhar vazas ou determinadas cartas – cada rodada tem uma regra diferente) e 4 rodadas positivas, onde o objetivo é ganhar vazas e o carteador escolhe o naipe de trunfo. As rodadas são pontuadas e quem tem mais pontos vence. O nome vem justamente de uma das rodadas negativas, onde o objetivo é não pegar o Rei de Copas! Sinceramente, achei estranho esse jogo aparecer como popular no Brasil. Eu só o conheço porque ele é conhecido entre a comunidade que joga Bridge (que é uma minoria absoluta). Gostaria de saber quem aqui conhece esse jogo e se o joga regularmente.
- Truco – Também um jogo de vazas, mas de natureza totalmente diversa. Não tem naipe, mas cartas determinadas como de valor especial (as manilhas) e jogado em melhor de 3. É um jogo baseado em apostas e “meta-game” (troca de sinais, intimidação, “dedo no cú e gritaria” para citar um famoso influenciador digital do board game carioca). Esse sim é um jogo largamente popular no Brasil, embora não muito aqui no Rio (razão pela qual eu nunca o joguei). O site cita três variantes, o Truco Mineiro, o Truco Paulista e o Truco Cego, variante que seria mais jogada no Rio Grande do Sul. A principal diferença entre o Paulista e o Mineiro é que no primeiro as manilhas são variáveis (para evitar a marcação das cartas).
- Buraco – Eu diria que é o grande “family game” do baralho. Pelo que eu sei, é jogado em todo Brasil em suas milhares de variantes. Aberto, fechado, com ou sem trinca, com ou sem limpar canastra após a sétima carta, valendo ou não canastra real, é o jogo mais fácil de conseguir parceiros onde quer que se vá. Posso jogar com crianças de 8 anos e com senhoras de noventa, como a vó da minha esposa, que adora comprar reis e ases, mas deixa todos os 7 e 8 passarem no monte. Mas nem isso a impediu de uma vez levar eu e minha esposa para o negativo numa memorável partida!
- Sueca – Provavelmente o jogo de cartas que mais joguei na minha vida. É um jogo de vazas jogado em duplas, onde o que importa são as cartas capturadas e não a vaza em si. Jogado com um baralho de 40 cartas (sem 8, 9 e 10) e com o Valete valendo mais que a Dama (e o Sete mais do que o Rei), é um jogo onde a contagem das cartas é essencial e com muito espaço para malícia. Em tese, é para ser jogado sem comunicação entre as parcerias, mas vai dizer isso na praça, ou no vagão do trem, onde se joga até em pé? A Sueca é muito jogada aqui no Rio, talvez por influência portuguesa, fazendo o papel que o Truco faz no resto do país. Joguei muito durante a faculdade: antes, depois e, muitas vezes, durante as aulas.
- Bisca – é uma espécie de uma sueca para duas pessoas. Cartas são compradas ao longo do jogo, o que torna difícil avaliar a renuncia de naipe. O site não tem as regras do jogo, eu joguei poucas vezes, porque é um jogo, na minha opinião, meio sem graça. Jogos de vaza para dois são raros e são um bom desafio para designers modernos. Cito aqui o The Fox and the Forest e o Claim como alternativas!
- Conção – Esse eu confesso que nunca ouvi falar. Segundo o site, é da família do buraco. É citado um jogo chamado Conquian, que seria um precursor do buraco, como base desse jogo. Você precisa fazer os jogos obrigatoriamente com a carta comprada na sua vez de jogar. Sinceramente, achei estranho. Me parece que alguém viu pessoas jogando pifpaf e não entendeu as regras. Se alguém conhece esse jogo, por favor comente aqui embaixo!
- Sete e Meio: jogo de apostas baseado na mecânica de “push your luck”. Já vi gente jogando, mas nunca aprendi a joga-lo. Lendo as regras, percebo que é basicamente de um 21 com outra forma de pontuação.
Senti falta de vários jogos: Poker, Ronda, Desconfio, Pifpaf . Quais jogos de cartas são famosos na sua área?
Para terminar, quero citar um dos xodós da minha coleção, os dois conjuntos de Baralhos KEM que eu possuo. Uma das coisas que eu mais demorei a me acostumar no hobby, foi com a qualidade das cartas, justamente porque aqui em casa sempre tivemos baralhos dessa marca que, pelo menos ao meu ver, é imbatível. As cartas são de plástico, confortáveis, facilmente embaralháveis e, se bem cuidadas, eternas. Não é barato, mas você as encontra nessas tabacarias chiques. Valem cada centavo.
Espero que tenham gostado! Jogos de carta tradicionais são fantásticos e podem ser uma ótima forma de você trazer seus amigos para perto do hobby. Pensem nisso quando forem convidar alguém para jogar. Começar por algo que eles conhecem pode ser uma boa tática!
Eduardo Vieira é analista de sistemas, e participa do Hobby desde 2018, mas vem tentando descontar o tempo perdido! É casado, mora no Rio de Janeiro e vive reclamando que não tem parceiros para jogar tudo que compra!
Acredito que paciência seja extremamente popular, aprendi a jogar no baralho com a minha avó e se considerarmos a versão do windows, quem nunca jogou?
Outros que joguei muito são Copas e Escopa.
Rafael,
Obrigado pelo comentário!
Acho que paciência é um capítulo a parte. Merecia um texto só para isso. “Do Klondike ao Onirim”. Está anotado!
Acho que a pergunta interessante seria: que jogos de paciência são mais jogados? Existe preferências regionais?
Como eu acredito que hoje em dia as pessoas joguem mais paciência em apps do que com um baralho físico, eu diria que as preferências acabam sendo definidas pela oferta de programas. Minha mulher joga Spider quase todo dia, por exemplo.
Eu gosto muito de Escopa. Acho um jogo sensacional, mas acho que pouca gente conhece.
Já o Copas, esse é bacana. A Miquilina me lembra muito a princesa do Love Letter! Uma bomba-relógio!
Sds,
Eduardo
Nunca tinha ouvido falar de King, Bisca, Conção ou Sete e Meio. Porém, fiquei curioso com esse king, principalmente por se assemelhar ao bridge, que é um jogo que sempre tive vontade de jogar – devido a sempre aparecer nos livros da Agatha Christie.
Gabriel,
Eu joguei Bridge de forma regular por uns 3 anos aqui Bridge Club do Rio de Janeiro. O jogo teve uma certa popularidade na década de 80, quando fomos campeões mundiais. O Globo trazia até problemas de Bridge no Caderno B.
Existem diversas plataformas para se jogar Bridge Online na Internet. A questão principal é aprender as convenções básicas do Leilão, o que não é muito natural, mas é imprescindível. Não dá pra jogar sem isso.
Eu vou fazer um artigo sobre o Bridge futuramente. Acompanhe!
Sds,
Eduardo
Parabéns pelo texto, com certeza o baralho foi o “primeiro jogo de tabuleiro” de todos… Meu pai jogava comigo e com meu irmão na infância Cacheta todos os dias… mal sabia o monstro que ele estava criando.
Abraços
Gabriel,
Teu pai é o culpado pelas surras que eu tomo de você! Vou reclamar com ele!
Sds,
Eduardo
Edu
Aqui em casa suas sobrinhas gostam muito de mal mal, que eh como o Uno, mas com as cartas do baralho. Eu aprendi com um primo de São Paulo do meu pai que uma vez foi para nossa casa de praia. Da para várias pessoas jogarem e eh sempre divertido! Baralho está sempre na mala das viagens em família! Não conheço vários que voce comentou acima. Agora vou procurar aprender outras modalidades 😉
Fernanda,
Obrigado pelo comentário!
O “mau-mau” realmente é um jogo bem famoso, mas a versão comercial (o uno) acabou eclipsando-a.
Para conhecer novos jogos, recomendo muito o site citei no artigo. É em inglês, mas vale a penas ser consultado!
Sds,
Eduardo
Ótimo post! Realmente jogos de cartas são uma excelente opção para trazer novas pessoas para o hobby, pois quem nunca jogou um carteado hein rsrs.
Thiago,
Essa é a ideia!
Se gostou desse texto, leia o novo, sobre as regras e táticas do jogo de Buraco!
Sds,
Eduardo