Faaaala Povo! Hoje damos início aos relatos de RPG aqui em nosso site. Ainda não sabemos como será a periodicidade desses relatos (semanal, quinzenal ou mensal), então ao terminar sua leitura, deixa aquele comentário dizendo se curtiu e a sua sugestão para esse formato. Agora fiquem com o começo dessa história que eu tive o prazer de participar, espero que gostem tanto quanto eu!
Bem vindos a Athas, um mundo condenado pela magia e abandonado pelos deuses. Lendas falam de uma época onde haviam oceanos, florestas e Athas era um paraíso. Esqueçam essas lendas, sendo verdadeiras ou não, elas não mais retratam a realidade. Hoje o planeta é um deserto, castigado pelo inclemente sol carmesim, onde brotam cidades estados governadas por tiranos intitulados reis feiticeiros! A vida por aqui é dura e está sempre sendo colocada à prova, um pequeno deslize e você pode acabar como comida de algum predador ou se tornar um escravo lutando pela vida numa arena para a diversão de terceiros.
Cavaleiros em armaduras reluzentes? Não existem em Athas, aqui o metal é raro e muito cobiçado! Esqueçam também os cavalos, nosso poderoso sol não permite que animais frágeis como eles sobrevivam!
A magia existe, no entanto ela não é bem vista. Conjuradores drenam a vida ao seu redor para alimentar seus feitiços, não é a toa que areia e rocha sejam mais comuns que plantas e água. Então, pense duas vezes antes de pronunciar palavras mágicas em público, os populares ao seu redor certamente não vão perder a oportunidade única de linchar mago!
Agora que vocês já sabem um pouco sobre Athas, vamos para a história que começa meses atrás, na cidade de Tyr, quando o alto templário Tithian comprou uma trinca de escravos bastante peculiar. Um musculoso meio-gigante chamado Gorm, um elfo conhecedor da natureza do Grande Deserto de nome Koandor e uma humana de presença intimidadora, mas de pensamento lento, chamada E’la.
O alto templário os colocou à prova e ficou satisfeito com o resultado. Aqui cabe uma explicação: Templários são adoradores dos reis feiticeiros, seus servos mais fieis e figuram nas camadas mais altas da sociedade athasiana. Como já foi dito, Tithian é um desses templários e ele serve ao rei feiticeiro de Tyr, o insano Kalak.
No entanto, longe dos olhos de seu mestre, Tithian mantém ligações com rebeldes, homens e mulheres dispostos a destituir o rei feiticeiro e deixar Tyr livre. Um sonho no mínimo ousado, uma vez que para muitos os reis feiticeiros são como deuses, imensamente poderosos e imortais.
Tithian havia decidido fazer mais que conspirar em meio as sombras; ele tratou bem esses três escravos com intenção de usá-los em ações concretas dos rebeldes.
Uma semana atrás o trio foi apresentado ao campeão da arena de Tyr, o mul conhecido como Rikus. Os muls são resultantes do cruzamento de humanos e anões, resistentes e ferozes, muitas vezes são utilizados como gladiadores ou guarda costas. Rikus talvez seja o ápice da raça, um guerreiro implacável e amado pelo povo de Tyr, suas lutas na arena são lendárias. E foi através dele que o trio descobriu os planos para destituir o rei feiticeiro Kalak e libertar Tyr. Para a surpresa dos escravos, seu mestre Tithian apoiava essa causa e isso fez o templário ganhar uma certa simpatia entre eles. No fim do encontro, o grande astro das arenas avisou aos três:
“Nos próximos dias deveremos ter um fato novo e então, eu precisarei de vocês!”
O dia finalamente chegou! O sol carmesim nasce furioso, castigando a todos na cidade estado e fazendo brilhar o multicolorido zigurate erguido no centro de Tyr, a morada de Kalak.
Meia dúzia de guardas armados com lâminas de obsidiana, uma pedra negra e afiada, acompanham o trio de escravos do pavilhão até o alojamento militar, onde Rikus os aguardava juntamente de um elfo.
Rikus é um mul de músculos sólidos e olhar intimidador. Ele veste apenas algumas proteções em couro para os ombros, antebraços e canelas. Suas mãos, são grossas e calejadas, mãos de um lutador, mãos de quem vive onde a ponta de ossos e obsidiana roçam a carne.
O elfo ao seu lado, veste trapos manchados de sangue. Seu rosto entrega o cansaço de uma longa jornada. Koandor o reconhece de imediato, o elfo se chama Farkas e eles se encontraram anos atrás num oásis em uma porção de terra firme no Mar de Areia. O druida impediu o ladrão de cometer a tolice de roubar um punhal de metal do líder da caravana. Koandor explicou ao ladrão que não haveria para onde fugir em segurança e que se roubasse e permanecesse na caravana seria descoberto. Afastando seus instintos, Farkas compreendeu que Koandor tinha razão.
“Se passou muito tempo desde que nos conhecemos Farkas.” – afirma o druida com sua voz pesada, encarando Farkas e se perguntando como ele sobreviveu por tanto tempo.
“De fato amante das feras. Fico feliz de estarmos do mesmo lado, mais uma vez.” – responde Farkas com um leve sorriso nos lábios.
O mul, ignorando os diálogos dos elfos, pega um tubo para pergaminhos feito de osso e o abre. Após tirar com cuidado um pergaminho feito de pele, Rikus começa a falar:
“Farkas arriscou sua vida numa expedição para conseguir estas inscrições na estranha e antiga linguagem dos halflings. Elas descrevem como Nok, um halfling capaz de entrar em comunhão com os espíritos da natureza, criou a Lança Cerne ou Lança do Coração da Madeira, a partir do último carvalho de Athas. Esta arma única é um dos poucos armamentos que podem ferir ou até mesmo matar um rei feiticeiro.
Sadira, uma feiticeira com ideais iguais aos nossos, acredita que Tuk, um líder tribal halfling, pode saber onde Nok vive ou onde está a Lança. Tuk e seus asseclas vivem na Floresta das Montanhas, um lugar úmido e perigoso. Um dos poucos locais em Athas onde um homem pode se afogar em meio a abundância de água. Confio a vocês quatro a missão de encontrar Tuk e descobrir o paradeiro de Nok. Neste tempo avançaremos em outras frentes, muito deve ser feito para se concretizar a queda de …” – Rikus se cala e apenas olha para a pirâmide do rei feiticeiro, como se a simples menção de seu nome pudesse atrair sua atenção.
“Tithian separou dois kanks e algumas provisões. Boa sorte!” – o gladiador vai até cada um dos escravos e se despede usando um aperto de mão ao estilo dos lutadores.
Assim que Rikus deixa o alojamento, Farkas é apresentado ao demais. E´La não demonstra cordialidade ao elfo, a sacerdotisa não confia nesta raça de pés ligeiros e mãos leves.
“Devemos nos preparar para uma árdua jornada. O caminho até as Ressonantes nunca é fácil.” – informa o druida com sua usual sabedoria vinda de anos peregrinando por Athas.
E´La que se distraiu observando os raios do sol que entram por um buraco na parede, que muitos poderiam chamar de janela, não prestou muita atenção na oratória do mul e indaga confusa:
“Achei que tinhamos uma missão, mas você fala em jornada Koandor. Teremos que viajar?”
“Sim, mas por uma boa causa. O caminho é longo, mas os espíritos nos guiarão. Kanks são boas montarias, resilientes e o mel que produzem é nutritivo e saboroso. O que acham de partimos imediatamente?” – diz Koandor com serenidade.
“Não recomendo viajarmos enquanto o sol assa nossos corpos. Os dois escravos que me salvaram de um bando de giths, caminhavam quando as duas luas ganhavam o céu. O frio da noite é intenso, mas preferível se comparado ao sol.” – responde Farkas.
“Não creio que Tithian se importará se nós esperarmos o anoitecer. Façamos como Farkas nos instruiu.” – decreta Koandor.
A empreitada se inicia quando o sol vermelho se esconde e o calor escaldante aos poucos dá lugar a um frio de gelar os ossos. E´La e Farkas dividem um dos kanks, já Koandor cavalga sozinho. Gorm é grande demais para montar um desses insetos, o meio gigante segue a pé atrás dos outros.
Durante toda a madrugada o bando segue uma antiga e quase oculta trilha e para a alegria de todos nenhum incidente acontece.
Quando o sol surge no céu, lançando seus raios pela terra, o quarteto se prepara para descansar à sombra de algumas rochas avermelhadas. A primeira vigília fica a cargo da sacerdotisa.
E´La ao vislumbrar a grandeza e o poder do sol de Athas, se perde em pensamentos de adoração e vislumbramento. Seu êxtase é interrompido com os gritos dor de Gorm! Uma aranha aparentemente feita de cristal cravou suas quelíceras na perna do meio-gigante. A dor provocada pelo veneno que se espalha pela corrente sanguínea, quase paralisa o enorme bárbaro.
Ouvindo os gritos do meio gigante, E’La corre até ele e afasta a aranha usando seu bordão de madeira. Gorm aproveita a oportunidade e se levanta buscando sua arma de obsidiana. Ele faz um arco no ar ao atacar com a espada de pedra negra. A aranha evita o poderoso ataque num salto, fazendo a espada se chocar com a rocha nua. A obsidiana explode em mil pedaços!
Koandor acorda assustado e já se depara com uma aranha gigante subindo em seu corpo! O aracnídeo tem a carapaça semelhante a rocha translúcida e quase dois metros das patas à direita até as do lado esquerdo. O elfo pega sua lança e com agilidade consegue usá-la para se proteger da picada. A astuta aranha não desiste e volta a investir, desta vez tendo êxito na mordida.
Mesmo sangrando o druida consegue empurrar a criatura e com duas fortes estocadas ele a destroça!
Enquanto, o druida luta pela vida, mais uma aranha deixa seu esconderijo nas rochas e vai pra cima de Farkas, contudo o rápido ladrão escapa num rolamento. Durante a esquiva ele apanha seu arco e um punhado de flechas.Fazendo uso delas, o elfo empala sua inimiga.
Uma quarta aranha entra na batalha, se esgueirando até as costas de E’La e picando sua coxa. A perna da sacerdotisa fraqueja, ela cerra os dentes e se volta para encarar o inimigo! O aracnídeo que envenenou Gorm, arqueia as patas, pegando impulso e salta na direção do bárbaro. No ar a luz do sol passa pelo seu corpo cristalino gerando uma miríade de cores. Num giro rápido, Gorm estraçalha a aranha com o que restou de sua lâmina de obsidiana.
Farkas vendo que a humana está tendo problemas para lidar com a aranha, volta sua atenção para a aljava que jaz no chão ao lado de seu leito. Sem munição, ele precisa de suas flechas. Quando o ladrão coloca a mão na aljava, uma aranha salta em suas costas e crava suas quelíceras em seu ombro. Um veneno pernicioso adentra a corrente sanguínea do elfo.
Após esmagar com seu bordão a aranha que lhe atacava, a sacerdotisa corre até o elfo que tenta desesperadamente tirar a criatura de suas costas. E’La ataca com tudo, infelizmente Farkas não para de se debater e acaba por entrar na frente do bordão que atinge seu rosto em cheio!
A aranha morde mais uma vez! Perdendo muito sangue Farkas reúne suas forças restantes e agarrando duas patas, arremessa a criatura para longe. O predador mal encontra o chão e já é perfurado pela lança de Koandor, finalizando assim esse conflito.
Através de uma prece ao sol, E’La cobre o corpo de Farkas com uma luz dourada que fecha suas feridas e renova seu ânimo.
“Vamos procurar outro local para descansar. Este lugar é o covil dessas aranhas, pode haver outras entocadas aqui.” – fala o druida já preparando sua montaria.
Quando os cansados viajantes retomam sua jornada, dessa vez tendo o sol opressor como companhia, o som de sinos é trazido pelo vento que sopra a poeira escarlate das pedras. Alheios ao perigo que correm, os membros do bando procuram uma outra sombra para repousar.
Um quarto de hora mais tarde eles avistam uma formação rochosa que se projeta da areia, como dedos de uma mão gigante enterrada. Gorm já estava deitado quando o som de sinos volta a chegar até eles. Esse sinal não passa despercebido por Farkas, não pode ser apenas coincidência. O ladrão decide escalar as rochas e se aninhar entre elas, do alto ele pode ver melhor a região.
Correndo sobre uma duna a cerca de meia centena de metros, um grupo de belgois é avistado! Eles são seres azuis, com mãos terminadas em garras e olhos sedentos por uma presa. Três deles carregam arcos e se alinham na retaguarda. Na vanguarda estão os dois mais fortes, empunhando lanças com pequenos sinos amarrados.
Uma flecha atinge o braço de Farkas quando ele se preparava para pegar o seu arco. O elfo grita de dor e retira a flecha, ao mesmo tempo em que encara a nova trinca de belgois arqueiros que avança pelo flanco, recarregando seus arcos. Por sorte o elfo é rápido e dispara primeiro eliminando um dos inimigos com uma flechada na garganta. Uma dupla de flechas é a resposta dos belgois, uma delas atinge as flechas na aljava do elfo, danificando algumas delas.
“Merda!” – resmunga Farkas. “Ei grandão faça algo!!! São muitos!”
No solo, Gorm e os demais tentam se proteger da saraivada dos outros arqueiros. O meio gigante puxa a humana e o druida pra junto de si e agacha atrás de uma grande rocha. Sorrindo ele vê as flechas se despedaçarem contra ela, confiante ele abandona a cobertura e grita incitando os inimigos:
“Homenzinhos azuis e fracotes! Gorm vai acabá cum cada um docês!!!”
Os arcos dos belgois se voltam para o meio-gigante e os lanceiros caminham se afastando um do outro, mas com os olhos no grande bárbaro.
Flechas inimigas voam até penetrar na carne de Gorm. Irritado, o bárbaro avança com passadas largas! E´La e Koandor vão logo atrás, usando o companheiro como escudo. Uma nova saraivada é disparada e o sangue do meio-gigante volta a cair sobre a areia. Ferido, ele investe sobre um lanceiro, erguendo o punho, preparando um soco! Nesta hora ele sente algo perfurar suas entranhas. Gorm esmaga a cabeça do inimigo com o punho, para em seguida ver que foi perfurado por sua lança. O ferimento é horrível e profundo. A sacerdotisa vai até o meio-gigante, retira a lança e fecha parte da ferida com uma prece, mas de maneira desatenta ela se coloca entre os arqueiros e o bárbaro, tornando-se um alvo. E´La paga caro por ajudar o bárbaro, duas flechas perfuram sua perna direita. O outro lanceiro belgoi morre ao ser trespassado pela lança de madeira do druida e Farkas com suas flechas derruba os outros dois atacantes, restando apenas o trio de arqueiros.
Gorm pega o corpo do belgoi morto e o coloca a frente do seu, os demais voltam a usar o meio-gigante como cobertura e avançam em conjunto. Uma flecha certeira se aloja no crânio de um belgoi, Farkas sorri satisfeito. Os belgois continuam disparando em Gorm, algumas flechas acertam o corpo usado como escudo, mas outras atingem as pernas e braços do bárbaro. Gravemente ferido e perdendo muito sangue, Gorm se desfaz do belgoi morto e arremessa uma lança com toda sua força, ela atravessa um dos arqueiros que cai agonizando. O último belgoi encontra seu fim na ponta da lança do druida élfico.
Sangue mancha as areias, o inclemente sol brilha forte no céu, não mais se ouve o som de sinos ao vento…
O Deserto guarda muitos perigos e criaturas, como será a jornada de nossos aventureiros!? Descobriremos mais um pouco dessa viagem no próximo post. Um Abraço! Relato baseado numa campanha de RPG ambientado em Dark Sun utilizando as regras do RPG Dungeon World Presentes: Guilherme (E´La sacerdotisa do sol), Mário (Koandor druida elfo), Henrique (Farkas ladrão elfo), Daniel (Gorm meio-gigante bárbaro), Paulo (Narrador)