No Covil, a jogatina do RPG presencial migrou pra mesa online…
E aí, blzura?
Possivelmente, alguém já escreveu ou já gravou um cast ou vídeo sobre esse assunto, mas como ainda estamos vivendo esse momento conturbado na história, acho que o momento ainda é válido. Além disso, como jogador de RPG das antigas, os meus 25 anos (mais ou menos) de hobby foram dedicados, em sua totalidade, a mesas presenciais e agora, “depois de velho”, eu e tantos outros iguais, estamos reaprendendo a jogar RPG, só que agora, online.
Jogar RPG online não é novidade. Alguns canais no youtube, por exemplo, já mantem gravações ou lives há uns bons anos. Plataformas como Roll20 e Fantasy Grounds já funcionam como plataformas que oferecem recursos essenciais para mesas online, como rolador de dados ou exibição de mapas. Então, o que mudou de verdade? Agora, jogar online se tornou necessidade para quem ainda quer manter o hobby.
Confesso que sempre torci a cara para a jogatina online. E isso, só porque eu ainda tinha oportunidade de jogar presencialmente, então usar câmeras e computadores era uma heresia com um jogo que foi criado para ser empregado como uma ferramenta de socialização. Só que o RPG foi criado lá nos idos de 1970/80 e de lá para cá, as nossas formas de socialização mudaram radicalmente. Talvez por ser mais antigo, eu ainda carregasse essa resistência e me gabava de poder manter mesas presenciais com certa frequência.
Mas daí, com o aparecimento do Corona vírus e a determinação do isolamento social, as coisas mudaram e passei perceber que essa resistência era uma besteira minha. E vou mais longe: ouso dizer que mesmo após a passagem da necessidade de quarentena, as mesas online deverão persistir e se manter com muito mais frequência. Falo isso, pois possivelmente, é como eu devo continuar mantendo as mesas de RPG.
E afinal, qual é a diferença? Quem jogava presencial, continuará jogando da mesma forma que jogava presencialmente? Eu diria que não. O RPG presencial é diferente do RPG online em vários aspectos e é justamente sobre isso que quero abordar.
Para começar, é uma experiência diferente o tête-à-tête da mesa presencial do que as câmeras online. “Ah, mas isso é óbvio”, você deve ter pensado aí, mas tem muito jogador e mestre que se esquecem disso e tentam manter a dinâmica entre os dois modos de jogo e isso pode gerar uma experiência não muito bacana.
Jogador Alfa
Ele já pode ser um problema em um mesa presencial, mas em uma mesa online, ele é potencializado e pode destruir tudo, porque ele quer detalhar cada ação do seu personagem, que estar presente em cada cena e sempre, SEMPRE, quer fazer algum comentário, mesmo se seu personagem não estiver presente. Não há uma fórmula mágica para resolver isso, mas cabe ao próprio jogador se policiar para não se transformar em Alfa e cabe ao mestre perceber quando alguém está estragando a diversão dos outros (e daí basta dar um toque inbox para tentar alinhar isso)
Domínio sobre as plataformas online
Dá para jogar RPG via WhatsApp? Acredito que sim, mas eu nunca joguei. Acho mais prático optar pelo Roll20 e uma segunda plataforma para áudio e vídeo, como o Discord. Só que para isso funcionar, tanto mestres quanto jogadores precisam conhecer o mínimo dos recursos das plataformas. Estar lá, no meio de um encontro com um Grande Antigo ou mesmo no combate frenético contra os orcs e precisar parar tudo só para explicar um funcionamento da rolagem de dano ou de recursos de sanidade é broxante. Conhecer dos recursos online é mesmo que saber o mínimo das regras. Sugiro uma sessão preliminar (uma sessão 0), com todos os jogadores e o mestre, só para explicar o funcionamento das plataformas, testas câmeras e áudios e, se possível, já ter um plano B se algo der errado (trocar do Discord para o Skype, por exemplo). Fazer isso antes, evita que você perca preciosos minutos durante a sessão.
Roll20 talvez seja a plataforma mais genérica utilizada nas mesas online, por ser gratuita (apesar de oferecer recursos pagos também)
Separar o grupo
Na verdade, isso é uma situação que o mestre precisa saber lidar. Em mesas presenciais, manter o grupo separado, com 2 ou 3 personagens, cada um em uma cena, pode ser problemático caso essas cenas se estendam por muito tempo. Porque enquanto um jogador joga, os demais não participam diretamente, mas se essa separação for bem feita, esse momento pode ser chave, com algo acontecendo na cena A, que tem relação direta com a cena B: Matteson, um detetive particular, deixou a jornalista Sarah Virgil na biblioteca, junto com o professor David Trevor, para que eles tentem encontrar o tal livro amaldiçoado. Enquanto isso, o detetive seguiu algumas pistas, o que o levou até o cemitério da cidade. Lá chegando, ele acaba esbarrando no túmulo de um certo professor David Trevor. Se o professor realmente está morto, quem ou o que ficou com Sarah na biblioteca?
Entretanto, separar o grupo em mesas online, potencializa o problema do jogador se distrair: facebook, WhatsApp, Instagram e outras coisas. Então é preciso saber lidar com maestria com esse recurso narrativo para evitar que um jogador se torne o foco da sessão, enquanto os demais só esperam sua vez de jogar. Tente sempre ligar diretamente a narrativa. Caso não seja possível, tenha em mente que tais cenas isoladas precisam se bem breves para não ficarem enfadonhas.
Horário, duração e local
No jogo presencial, quando a gente se reúne na casa do Carlos, por exemplo, cada um leva um tira gosto, tem uma mesa à disposição e um local pra gente jogar mais reservado (afinal de contas, nem todo mundo entende que a descrição do ritual faz parte do jogo e não é algo real). Assim, há mais liberdade de aumentar o volume das conversas (dentro dos limites, claro), dar umas boas risadas e debater se realmente o Snyder Cut vai conseguir salvar o dia. Encerrando o horário, cada um para sua casa.
Na mesa online, as coisas são um pouco diferentes. Primeiro: talvez nem todo mundo tenha um local adequado para ligar um PC e a câmera. Pode faltar luz no ambiente ou tem mais alguém no quarto, por exemplo. Horário tem que ser acertado entre todos e estando em casa, imprevistos sempre vão acontecer e alguém pode ter que se ausentar (temporariamente ou não) da sessão. Jogar a noite é o mais comum, mas para quem trabalha, a pessoa pode estar cansada (bocejando o tempo todo), o tom de voz não pode ser elevado e se essa pessoa trabalha no dia seguinte, jogar até tarde é inviável. Assim, a organização prévia nos jogos online precisa receber uma atenção especial para evitar problemas durante as sessões.
Gravação
Por motivos óbvios, gravar as mesas online é tarefa bem fácil de ser feita e garante um registro histórico para quem quiser matar saudade ou produzir conteúdo. Quando comecei a jogar presencialmente, jamais imaginei que as gravações de mesas de RPG pudessem ter público, mas hoje, basta dar uma pesquisada rápida no youtube para perceber que há um nicho bem abrangente para essa área. Só que não pode ser feito de qualquer forma: qualidade de captação de áudio, qualidade de vídeo, domínio sobre as regras e um overlay bonitinho são requisitos mínimos. Se for live, anunciar com antecedência, criar uma capa e uma arte para o intervalo e colocar alguém para acompanhar o chat é fundamental. Se for gravado para a postagem posterior, ao menos inserir uma trilha, ajuda bem.
Sobre essa questão de gravação, posso citar dois exemplos. Primeiro, com as gravações aqui no Covil dos Jogos. Iniciamos a campanha “A Maldição de Strahd”, pra D&D 5ª ed, presencialmente. Já completamos 18 sessões com câmeras, iluminação, local, enquadramento, miniaturas, etc. Dá uma trabalheira danada, mas o resultado é fantástico, principalmente quando acontece algo extraordinário, tipo uma rolagem crítica num momento decisivo: todo mundo vibra! E já começamos, recentemente, a campanha “A Mina Perdida de Fandelver”, também pra D&D, só que essa, online. Aqui, a qualidade da captação de áudio é fundamental, seguida pelo enquadramento das câmeras. Como não vai em forma de live, uma edição posterior acaba reduzindo 3h de sessão pra pouco mais de uma hora de duração.
Olha aí o exato momento em que uma rolagem crítica muda a história… e faz a galera vibrar de alegria!!!
No nosso grupo do RPG das Gerais, a proposta que a gente já vinha discutindo desde o ano passado era como gravar as mesas presenciais (levando em consideração local, equipamento e tempo), o que acabou acontecendo uma única vez antes da pandemia. Agora, migrando para o online no Roll20, a gente tem gravado tudo e disponibilizando no canal, mas tendo que lidar com as mesmas questões: qualidade de áudio, enquadramento e, posteriormente, uma edição.
No RPG das Gerais, a turma também tá aderindo ao online para manter o hobby….
Material
Para jogar online, basicamente você precisa de internet, computador e a plataforma online (Roll20 e Discord dá para usar de graça). Livros não precisam mais ser físicos e uma vaquinha entre os jogadores e mestres, permite comprar pdf’s sem muitas dificuldades (mesmo quando o dólar está beirando os 6 reais). Dados e divisórias também acabam se transformando em recursos desnecessários (eu tenho um pote cheio de dados aqui e uma coleção particular de divisórias juntando poeira). Jogar online é mais barato do que jogar presencial.
E aí, você concorda?
RPG é vida, tantos sistemas, tantos universos. Rolar você mesmo os dados esperando aquele resultado satisfatório, rabiscar a ficha e tá com a galera reunida, nada substitui isso, nem nos BGs e nem no RPG. Mas se o que tem para satisfazer a necessidade do hobby por enquanto é o online, nada mais justo. 😌🙂
Oi Diego! Pois é… a mesa presencial é algo realmente espetacular. O RPG nasceu assim e foi pensado assim: uma forma de interação social presencial. Mas, infelizmente, fomos afetados de uma maneira que ninguém pensava e jogar online acabou sendo a única alternativa. Vamos torcer pra isso tudo passar logo e a gente poder retomar esse nosso hobby. Abraços e valeu pelo comentário!
Olá Douglas! Legal ver você tratando de RPG aqui!! Espero que continue publicando. Me identifico muito com você. Também iniciei no RPG na década de 90 (não sei ao certo quando, mas tenho em minha memória como algo entre 93 e 94). O tempo passa!!!! E também, como você, “torcia o nariz” para o RPG online, mas diante da nossa situação no momento, acabei sendo vencido pela necessidade (preciso jogar RPG), e resolvi desbravar esse mundo novo (pra mim) do RPG online. Com um pouco de pesquisa e fuçando nas ferramentas que se tem disponíveis, resolvi tentar. E sabe de uma coisa, gostei! Claro, há muito aspectos que não são o ideais, mas há outros que vi vantagens significativas. Essa semana perdi minha virgindade no RPG online mestrando Chamado de Cthulhu. Comecei por algo mais narrativo, exatamente por não conhecer todas possibilidades e não dominar as ferramentas. Mas como já disse, realmente gostei. Claro que não substituirá as mesas físicas, mas é uma opção válida e muito interessante. Apesar de já ter visto diferentes partidas de RPG online de canais diversos, não imaginava que eu estava pintando o monstro mais terrível do que ele realmente é. Também acompanho seu trabalho iniciado no RPG das Gerais, e de todo coração, tenho a dizer, continue que você manda muito bem como mestre. Bom, não vou estender-me mais, mas saiba que seu conteúdo tanto dentro do Covil dos Jogos (narrando, jogando e escrevendo) quanto no RPG das Gerais está muito bom. E, já que estamos falando desse mundo novo do RPG online (ao menos pra mim), as distâncias não existem mais, e eu gostei da dinâmica, assim se precisar de um jogador estou a disposição (hehehehe quanta presunção). Valeu, continue com o trabalho.
Ivan, meu caro, muito obrigado pelo comentário e pelos elogios! A gente se esforça pra divulgar o hobby da melhor forma possível. Quanto mais jogadores, melhor. O modo online mudou bastante pra muita gente, mas como vc disse, acho que mudou pra melhor. Diria que hoje jogo RPG como jamais joguei. Só que pra funcionar, é preciso adotar algumas regrinhas pro jogo fluir melhor. E pode deixar que tendo oportunidade, te convido sim! Abs